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quarta-feira, 5 de junho de 2013

COMO ANDAM OS QUADRINHOS?



 No início do aguardado e temido novo milênio (poxa, isso parece tão velho agora, no entanto na minha cabeça a impressão que dá é que 2000, 2001 aconteceram a alguns meses!) os quadrinhos, esta forma tão peculiar de contar histórias, teve sua morte anunciada por muitos "experts" no assunto, deixariam de existir como o conhecemos em poucos anos, virariam peças de museus. Ainda lembro quando ouvi isto da boca de um rapaz que se dizia um grande leitor de Stephen King e de livros de ficção científica no escritório da extinta Pandora Books. Ele estava cheio de argumentos que não tenho saco para reproduzir aqui, mas certamente alguns deles até hoje sobrevivem, como o encolhimento de leitores, fato este que não dá para refutar, uma vez que hoje a criança/jovem tem outras fontes onde exercitar a imaginação, ou se preferirem, "escapar" da realidade cotidiana. O desenvolvimento ultra rápido do Vale do Silício foi o que mais contribuiu para o retraimento da forma de narrar histórias com desenhos em sequência.
O tempo mostrou que aqueles profetas estavam enganados, ouso dizer que a HQ é única forma de arte que (para o bem e para o mal) evoluiu, prova disto é que mais que nunca ela oferece matéria prima para boa parte das produções cinematográficas que vemos hoje, e não falo apenas do gênero super-heróis, Old Boy, a cultuada produção sul-coreana é oriunda de um mangá.

Como andam os quadrinhos hoje? A situação pra mim soa estranha, mas se pararmos pra pensar bem as coisas sempre andaram estranhas para este meio de comunicação.
Aqui no Brasil eu noto uma produção com qualidade cada dia mais impecável, mas que não consegue chegar a todos apesar da divulgação promovida pela internet.
A bem pouco tempo, em 2011 pra ser bem específico, o produto nacional, com ênfase na produção independente, atingiu proporções estratosféricas (eu mesmo tive dois álbuns lançados) com muitos títulos elogiados e com festivais pipocando por todo o país. Editoras, muitas delas de renome, começaram a publicar hqs e grandes livrarias abriam espaços. Era natural pensar que a coisa rolaria de vez e um mercado consolidado se faria sentir. Infelizmente não foi isto que aconteceu. E porquê? Os artistas continuam aí, famintos. Teria o público ficado tímido? Seria culpa da inflação, que embora não seja alardeada como outrora, está de novo presente em nossas vidas? Difícil dizer o motivo, ou motivos.

Fazer quadrinhos não exige muito se formos pensar em termos de material, só é necessário lápis, borracha, caneta, régua e folhas de papel. Boas ideias, energia, e técnicas narrativas são outros quinhentos. Com o básico que acabo de citar você constrói o seu mundo (algo como aquela música "Aquarela" do Toquinho), daí encontrar outros que queiram dividi-lo com você é o passo natural. Todos temos histórias para contar, sempre haverá quem esteja disposto a ouvir, então, ouso dizer que os quadrinhos não morrerão jamais. Como acertar o passo de quem cria ao de quem consome é uma questão para a qual não existe uma solução fácil. Usa-se todo tipo de recurso. Atualmente artistas (alguns até já com nome consagrado no cenário) tem recorrido ao sistema de pedir ajuda financeira aos seus (possíveis) leitores prometendo artes originais e outros bônus. Tudo isto no afã  de ver seu trabalho circulando. É válido, mas espero jamais ter que me valer deste artifício. Sonho com um mercado de fato, onde exista material de qualidade com grandes tiragens e público ávido por produto sempre presente em bancas e livrarias.
Sei lá se este dia chegará em terra brasilis, mas até lá nossos contadores de histórias seguirão, geração após geração, resistindo nas trincheiras.

4 comentários:

  1. Olá Eduardo,
    muito bom o texto. Esse é um questionamento que venho me fazendo, onde estão as pessoas que leem quadrinhos? Num país onde 70% das pessoas são analfabetos funcionais(não sei até onde isso é verdade) é difícil produzir quadrinhos. Como esperar que as pessoas apreciem algo que mal saberão interpretar, tem pessoas que acham complicado seguir a sequência das HQ's. A resposta, a meu ver, é a falta de incentivo "real" a cultura e educação...e isso causa problemas não só para os quadrinhos, mas para qualquer outro tipo de arte. O público de quadrinhos existe, mas nessa imensidão de pessoas apenas um punhado limitado consegue absorver esta arte. Enquanto a maior preocupação do povo for o "Bolsa Família" e a "Copa de 2014" continuaremos nesse ritmo.
    Acompanho seu blog a pouco tempo, achei muito bom o seu trabalho!
    Abraço e até mais.

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    Respostas
    1. Rapaz, são tantos analfabetos assim? Ainda? Sempre soube que os índices de analfabetismo no Brasil eram grandes, mas achei que de uns anos pra cá isto tivesse diminuído. De qualquer forma, com o governo que aí está, nem sei porque me surpreendo. Sim, com certeza, a pouca leitura é um dos tantos problemas que os quadrinhos enfrentam nesta terra. O preconceito do público e até mesmo do público alvo em relação ao material nacional é outro fator, na minha opinião. Basta dar uma chance e coisas como "Os Carcereiros", "Bando de Dois" e o "Cabeleira" (quadrinhos geniais) começam a aparecer. Uma boa divulgação também ajuda.

      Obrigado, Denny, e um grande abraço.

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  2. Ótimo texto, Eduardo. Acho importante pensar sobre o assunto. E assim, de forma adulta e realista, seria o ideal para a maioria dos envolvidos. Mas sempre fica a pergunta terrível de por quê ainda não criamos um mercado verdadeiro no Brasil...
    Eu não vejo uma resposta clara. Talvez nem exista uma resposta. E talvez nem devesse haver.
    A HQ evoluiu muito, é certo, mas em essência, continua sendo feita por paixão, o que nem sempre é aliado ao modus operandi da razão e bom senso. Acho que é um pouco o estigma do artista. Ser genial na arte e na maioria das vezes péssimo em negociações e em tornar seu produto mercadologicamente bom. Bom, paro por aqui, que tô me enrolando, kkk.
    Valeu pelo texto que nos faz pensar...
    Abração,

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  3. Grande Gilberto, era pra eu ter respondido a este seu comentário a mais tempo, mas é tanto o que resolver que as tarefas mais simples acabam sendo negligenciadas, mas nunca é tarde, como dizem.
    Sabe, não acho que exista uma resposta a estas questões, quer dizer, eu acho que existe sim, mas no meio de toda complicação, as possíveis soluções acabam se perdendo e se convertendo em mera especulação. O importante é que com o passar do tempo esta legítima forma de arte vai sobrevivendo e se fortalecendo à todas as tempestades. Sempre haverão leitores e criadores, alguns conseguirão se sobressair graças ao talento, boa divulgação, auto promoção e estar ligado a "panela" do momento (não é imprescindível para a vitória, mas ajuda muito).
    Obrigado e um abração.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

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