img { max-width: 100%; height: auto; width: auto\9; /* ie8 */ }

quinta-feira, 21 de março de 2013

DESCENDO LADEIRA ABAIXO.



Intervalo de trabalho exaustivo mas altamente compensador. Rola Eric Clapton no som. Eu aqui diante do monitor sem saber exatamente o que escrever, tantas coisas para recordar, dividir, mas sem a energia e inspiração para tanto.

Segunda feira última eu e Verônica levantamos muito cedo, na verdade era para termos levantado mais cedo ainda, mas cansados como estávamos (por termos ido dormir muito tarde - não por gosto, mas por hábito) não ouvimos o despertador tocar. Na verdade eu ouvi, como se ele estivesse a quilômetros de distância, lembro vagamente de vela desligando-o e ela não tem recordação disso. Ao acordar as 4:30 ela levantou assustada: "Meu Deus, vamos perder a consulta!"
Ela tinha um exame marcado, eu iria, como sempre, acompanha-la. Tomamos banho as pressas, o café da manhã frugal por causa do tempo e ganhamos a rua. No ponto, os coletivos lotados, o que nos interessava não aparecia. Os ponteiros do relógio correndo como se um cão louco estivesse em sua cola. "Se não chegarmos até o mais tardar 7:30 perco a consulta e daí só no mês que vem!" Disse-me ela. "Tô ligado, acho melhor pegarmos uma van até o Santa Genoveva e lá pegarmos o Jardim Catamarã, deve vir vazio e nos deixará quase no mesmo lugar." Falei. "Certo, então vamos logo." Respondeu ela.
Assim fizemos. O dia prometia chuva pesada. No ponto em frente ao tal do Santa Genoveva o ônibus não estava nem aí pra nossa agonia. Quando finalmente apareceu, veio lotado até a tampa. Estranho, não estávamos distante do terminal dele.
Os auto-carros cheios são assim, pessoas que passam se esfregando em sua bunda, não porque queiram, muitas vezes, mas é que não há outro jeito. Hoje todo mundo fala ao celular ao mesmo tempo, tornando a viagem mais insuportável, gordos dormindo nos bancos, bafos matinais, bolsas como se carregassem o mundo dentro lhe pressionando em cima de outras pessoas.
Na altura da praia de Boa Viagem, o trânsito empacou como se quisesse provar a São Paulo que não ficava muito atrás. Ao menos a vista era bonita, a praia com suas ondas procelosas infestadas de tubarões cabeça-chata estava magnífica aquela manhã. No horizonte, um céu lovecraftiano de nuvens negras e cinza-chumbo prometia tormenta. Era possível ver uma cortina de água como se fosse uma muralha prestes a se romper. Um espetáculo que só o Deus Todo Poderoso pode oferecer.
Como se o ônibus não estivesse lotado o suficiente, um batalhão de gente se apinhou na porta traseira, eram egressos de um outro que quebrara no caminho. O olhar de Verônica para mim dizia que iríamos perder a viagem. Pisquei um olho como quem diz, relaxa, não há nada que possamos fazer a respeito, vamos aguardar. Eu tinha esperança que o coletivo fosse esvaziar a medida que fosse avançando. Não esvaziou. Esperava que saindo do trecho beira mar ele fosse acelerar. Isto pelo menos se concretizou.
A chuva prometida pelos céus escuros, caiu em pontos isolados, como verificamos depois, felizmente não onde estávamos, senão atrasaríamos mais ainda.

Descemos no ponto certo, mas a rua que procurávamos ficava mais longe do que eu imaginava. Com certo custo atravessávamos as ruas e avenidas de Recife correndo contra os segundos, Verônica em passo acelerado e tomando cuidado para não torcer os tornozelos nas calçadas mal pavimentadas e esburacadas. Nunca vou entender as mulheres com seus batons e saltos altos.

Chegamos com meia hora de atraso. Ela não fez o exame, mas não por causa do horário, mas sim porque o aparelho necessário para o procedimento estava com defeito. "Não ligaram para a senhora desmarcando?" Perguntou a atendente, sem graça. Minha vontade foi a de responder: "Ah, ligaram sim, é que a gente passeava pelas redondezas e resolvemos vir aqui para lhe dar bom dia!" Teríamos que ligar remarcando, mas só no mês seguinte. Então já sei que daqui a um mês teremos que repetir esta emocionante aventura.

A volta para casa não foi menos custosa. Os ônibus só passavam lotados, o primeiro que apareceu, vinha do outro lado da pista junto a um comboio e fingiu que não me viu dar sinal, passou batido. Como o seguinte demorava demais, pegamos um até o bairro próximo ao nosso, de lá uma van nos deixaria em casa. Aquele pelo menos não estava apinhado de gente.
Me sentei sem vontade de conversar, fechei meus olhos e comecei a matutar sobre o atual mundo em que vivemos. Desde que nasci e me entendo por gente sei que este é um vale de lágrimas, um labirinto onde não há saída, temos que passar por ele, queiramos ou não, o que aprendi é que temos que ser íntegros tanto quanto possamos e trabalhar duro. Os homens criaram mais labirintos ainda, nos viciaram em refrigerantes, salgadinhos, biscoitos recheados e coisas tais, agora surgem os especialistas (agora tem especialista pra tudo) e nos bombardeiam a cabeça dizendo que tudo faz mal, que causa câncer. Todos querem o conforto de andar de carro e comprar alimentos enlatados para não ter mais trabalho de colher feijões ou debulhar as espigas de milho, mas não querem o ar poluído pela fumaça das fábricas e dos veículos. O mundo está cansado. A natureza está exaurida, há pessoas demais. Até num bairro pacato onde moro, não se consegue um pouco de solidão, aquele momento a sós tão necessário à reflexão. Cheguei a pensar que se o planeta tivesse metade de sua população talvez fosse melhor. Mas será? Nos condicionamos a viver de uma forma que nos tornamos prisioneiros do monstro que criamos. Quem iria operar as usinas? As montadoras de carros? As fábricas de alimentos e de eletrodomésticos? A industria de entretenimento? A besta criada por nós cresceu a tal ponto que a humanidade atual não é suficiente para alimenta-la. Agora não vivemos mais sem internet, celulares e etc.
Mesmo que erradicássemos os desocupados, falo daqueles parasitas que sentem orgulho de serem assim, e os bandidos (leia-se assassinos, estupradores e tais) o planeta seria esta bagunça.
Niilista eu? Não, não mais. O evangelho de Jesus Cristo, assevera que este é um mundo de aflições, mas que tivéssemos bom ânimo, Ele tinha vencido o mundo.

Não liguem, meus queridos e queridas, minhas filosofias são risíveis, eu sei, então vamos às artes de hoje que a coisa é séria (bem, nem tanto), elas são detalhes de uma capa para o livro chamado "Uma Véspera De Reis" do Artur Azevedo.


 




6 comentários:

  1. Fala, Eduardo! Ao menos essa "aventura" serviu para a construção deste bom relato. Compartilho várias das suas idéias, embora talvez, não todas. Mas a maioria. Grande abraço,
    P.S. A cor dos seus desenhos sempre me chamam a atenção. Bacana a pele negra que faz.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não concorda com tudo? Como assim, Gilberto? É para concordar!!!!
      Mas falando sério, que bom que há discordâncias, mostra que você tem personalidade forte e pensa por si mesmo, já percebi também que as lentes pelas quais você vê o mundo não são tão foscas quanto as minhas. Isso aí.

      Tons de pele pele, pela minha experiência é algo particular de cada artista, há regras evidentemente, mas cada um usa os tons que melhor se adequem às situações imaginadas.

      Obrigado e um abraço.

      Excluir
  2. Oi Eduardo, muito legal a narrativa.As artes não preciso dizer nada vc sabe minha opinião.Abraço fique na paz.

    ResponderExcluir
  3. kkkk. Me assustei quando comecei a ler sua resposta. Pensei: Pronto, falei merda, perdi o amigo.
    Mas vi que não é isso. Você é uma pessoa generosa e esclarecida. Minhas discordãncias não são nada graves. Para falar a verdade, talvez nem saberia enumerá-las assim de pronto. Acho que, como você disse, seja apenas questão de lente. Nme melhor nem pior. Torço imensamente por você e prezo muito sua atenção. Obrigado mesmo.
    Grande abraço,

    ResponderExcluir
  4. Liga não, Gil, meu senso de humor as vezes é mesmo estranho e surpreende um tanto.
    Sou eu quem agradece.
    Abração.

    ResponderExcluir

ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...