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domingo, 15 de maio de 2016

PARTE FINAL DOS COMENTÁRIOS DO LUCA FIUZA SOBRE SEUS CONTOS ENVOLVENDO ZÉ GATÃO.



CONTOS DE ZÉ GATÃO – FINAL.
         9 - KARENINA:
         Para mim este conto trouxe em seu bojo um pouco da atmosfera um tanto utópica tão comum em meus escritos no princípio dos anos 80!  Aquelas historietas escritas à mão eram parte integrante de uma safra que eu costumava enviar ao meu brother Eduardo no período em que ele esteve residindo no Rio de Janeiro. Não foi à toa que fiz questão de que esta história fosse uma continuação direta do conto Lígia que já continha este viés mais ingênuo.
         Sempre fui um escritor muito descritivo que me atinha a detalhes, esmiuçando profundamente as cenas e os personagens de tal maneira que me tornava prolixo. Meus leitores e leitoras em sua maioria amigos da quadra onde eu morava, e curiosamente algumas genitoras de meus amigos gostavam deste estilo, cheio de floreios, de sofismas e certa dose de picardia, acrescido de um romantismo na realidade bastante pueril, mas condizente com o adolescente sonhador que eu era!
         Como já é de conhecimento público, em 2011 foi lançado o primeiro conto do felino taciturno no blog do meu mano velho. Já antes disso, principiei a acreditar ser necessário alterar em certa medida meu costumeiro jeito de contar histórias. Mais do que nunca, pois eu estava escrevendo para um público que não me conhecia. Desta forma, cogitei que possivelmente textos muito longo e cheio de detalhes altamente descritivos cansariam a quem os lesse. Ainda assim, não queria perder esta essência que me era característica e a solução que encontrei foi reduzir os excessos e procurar escrever um texto equilibrado que fosse objetivo sem ficar burocrático ou tedioso.
         Intimamente, sentia saudade da forma antiga. No entanto, sabia que jamais conseguiria escrever exatamente como antes em razão das naturais alterações que sofremos com o passar dos anos. Nossa cabeça muda! Amadurecemos e as significações da vida agora são diferentes. Apesar de reconhecer tudo isso, eu queria resgatar de alguma maneira aqueles momentos do passado e acho que dentro das proporções tive sucesso em Karenina onde eu falhei em Lígia.  O texto de Karenina foi uma narração bem descritiva e detalhada como eu sempre gostei de fazer, retratando a natureza, a vida no descampado sob o calor do sol durante o dia e o suave frescor da noite estrelada. A descrição do mangue e do mar remontam vivências de minha infância no velho Rio de Janeiro em uma Barra da Tijuca mais agreste nos fins dos anos 60 e iniciozinho dos 70 com sua praia ainda com vegetação típica de áreas litorâneas. O mar bravio. Ouvia do meu quarto o fragor das ondas no silêncio da noite.   Ou na casa de minha vovó Dulce em Iguaba Grande, na região dos Lagos, a poucos metros da lagoa de águas extremamente salinas e cálidas, conhecida como Araruama e suas cercanias, onde havia praias de mar aberto ainda intocadas pela mão humana.  A floresta pela qual Zé Gatão passou antes de chegar à vila dos gatos-pescadores foi uma referência ao Parque Laje, onde eu brincava com os amiguinhos do nosso prédio ainda na cidade maravilhosa. Todo este ambiente estritamente natural e virgem eu retratei em Karenina, tentando trazer de volta a singeleza do meu passado naquele conto tão gostoso de escrever. Gostei muito de todos os personagens, desde os benfazejos gatos da pequena vila até os truculentos cães policiais que foram perturbar os pacíficos felinos. A personagem Karenina em si é muito interessante! Aprecio muito as gatas selvagens, pois todas elas têm suas particularidades, uma ferocidade e uma energia vital que as diferencia das felinas civilizadas, mais complexas e sutis a meu ver do que estas feras mais afeitas à total independência. O próprio felino taciturno está nesta trama mais descontraído, a angústia que o caracteriza costumeiramente não está premente...mas está sempre ali a espreitá-lo!  Como em muitas de suas histórias, inclusive nas HQs do Eduardo, o gato não tem o domínio da situação e se move ao sabor das circunstâncias, tendo de muitas vezes se adaptar às contingências e agir conforme o caso.
         Assim concluo minhas breves considerações sobre meu processo criativo enquanto desenvolvi minhas experiências com o universo antropomorfo entre 2011 e 2015. Mais uma vez agradeço ao meu mano velho Eduardo Schloesser por esta oportunidade ímpar.

Luca Fiuza.

( http://eduardoschloesser.blogspot.com.br/2016/03/ze-gatao-karenina-um-conto-de-luca.html )

2 comentários:

  1. Gostei de saber que os cenários se baseiam em lugares reais. Eu sempre me perguntava como o Luca imaginava as paisagens. Parabéns, Luca e Schloesser, pelo conto e o desenho!

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    1. Taí alguns detalhes que eu também desconhecia, Carla, que o Luca se baseou em lugares reais para situar o conto. Também não conhecia os gatos pescadores, nem sabia que existia essa espécie de felino, que têm um bom fôlego debaixo d´agua. Ele pesquisou bem. Interessante, né?

      Obrigado por sua visita e comentário.

      Forte abraço.

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