domingo, 25 de novembro de 2018
ZINE CABAL
Ah, fazer tudo que planejo, tomara fosse possível! A mente não para, não repousa, elabora coisas, imagens, palavras.... os vendavais de sentimentos que pedem um corpo na branca imagem do papel (ou da tela). E onde encontro tempo para que estes fantasmas ganhem alguma estrutura? São tantas pequenas coisas do dia a dia, a labuta pelo pão nosso....e a fadiga preenche tudo!
Tenho tirado o pé do acelerador...não vale tanto a pena o esforço praticado. Arte, pra maioria das pessoas, não acrescenta nada. E o que é verdadeiramente arte? Aquela que disputa os olhares das pessoas nas paredes dos museus, podemos dizer? Guardando as devidas proporções, o que falar dos desenhos postados em blogs ou páginas de redes sociais? Eu realmente não sei.
Como posso, da maneira que posso, minhas ideias vão ganhando carne, compleição, robustez ao lado dos trabalhos que colocam comida na mesa. Sei que muitas dessas quimeras se perderão com o tempo, como foi com tantas outras ao longo dos meus anos, algumas viraram almas penadas que as vezes vem me assombrar, mas estão fragmentadas demais para que eu possa reconstituí-las, dar a elas uma imagem a ser visualizada por alguém.
As vezes eu paro na estrada em que caminho, olho em redor, não há nada além de mim (nem poderia). Observo às minhas costas, o caminho longínquo, cheio de junções se mostra difuso, embaçado, perdendo totalmente o colorido. À frente, apenas vislumbres do que poderá ser, em meio a escuridão. Prossigo, com extremo cuidado um passo após o outro.
Comentava com um amigo que seu eu pudesse pleitear algo em particular agora que vou entrando nos dias de velhice, seria um pouco menos de pressão na lida cotidiana, um tempo para mim, para pintar minhas telas a óleo, produzir algumas esculturas em argila, um lugar sossegado para ler meus livros e gibis, um toca disco para ouvir meus vinis. Pode não parecer, mas eu acho que é pedir demais.
Existem muitas vantagens de ser um ilustrador querido por algumas pessoas, além do carinho das mensagens para meus desenhos, recebo presentes em casa. Livros, revistas e prints.
CABAL é um fanzine muito caprichado. Material de ótima qualidade, não só na impressão como no conteúdo. É um quadrinho que me lembra muito umas publicações que eu via em bancas nos anos 70. Naquelas edições, fosse a narrativa de faroeste, detetive ou terror, a única preocupação era contar uma boa história, nada de ideologias; os desenhos, uns muito bons, outros mais amadores, deixavam entrever o esforço do artista em se mostrar claro ao leitor. Hoje muito disso se perdeu, infelizmente.
O responsável pela publicação é o Clodoaldo Cruz - a quem agradeço o carinho em me enviar as edições - e, como não podia deixar de ser, é uma publicação mix; tem de tudo um pouco, ficção científica, terror, noir, pin ups e entrevistas com autores e desenhistas veteranos e novos (teve uma edição muito boa com o lendário Júlio Shimamoto).
O carro chefe da publicação tem como tema histórias detetivescas em uma cidade chamada CAT'S CITY, onde um felino assassino é o protagonista. Não há outros antropomorfos, apenas gatos. Há um "Q" de Zé Gatão ali? Pode ser. Mas o tema é diferente, a filosofia da coisa é diversa.
O fanzine, na verdade uma revista que poderia muito bem ser vendida em bancas do país, é muito bem editada e conta com roteiristas e desenhistas muito competentes. Como eu disse, ela me recorda as HQs de um tempo menos corrido e concorrido.
Tem um um e-mail no expediente da revista, imagino que se alguém se interessar possa escrever para lá. É: zinecabal@gmail.com
MEUS PARABÉNS A TODOS OS ENVOLVIDOS NA PRODUÇÃO DA CABAL e que ela tenha longa vida e possa chegar às mãos de mais pessoas.
E vamos em frente!
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Interessante esse fanzine, Schloesser! Seria legal se o Zé Gatão tivesse influenciado Cat's City. Abraço!
ResponderExcluirNão sei se o meu felino é tão conhecido assim a ponto de influenciar outros autores, Carla, mas teria sido legal, sim.
ExcluirObrigado por sempre comentar aqui.
Abração!
Se não me engano, soube do Cabal através do QI (Quadrinhos Independentes), do Edgard Guimarães.
ResponderExcluirE já que mencionou o Shima, falei com ele por e-mail há pouco tempo e passa bem. Acho que já te falei (ou não?!) que conheci ele por carta e graças a uma sessão de um fanzine (o Tchê, do Denilson Reis).
É muito bom conversar com ele, que sempre é muito cortês. Quero conhecê-lo pessoalmente, antes que se vá, já que ele é bem velhinho. Tomara!
Isso porque nunca tive a chance de falar nem por carta com outros desenhistas da velha guarda nacional, como Eugênio Colonnese e Gedeone Malagola, mas ambos foram homenageados em vídeos que montei pro evento Mutação.
Tive o privilégio de conhecer o Shima e bater altos papos com ele tanto pessoalmente quanto por telefone, gastamos uma boa grana de interurbanos. Foi através dele que me encontrei com o Zalla, outra grande figura! Com o Colonnese eu tive um breve colóquio na Comix, depois ele me ligou para agradecer um exemplar do primeiro Zé Gatão que foi enviado a ele. O Malagola não tive o prazer.
ExcluirEu penso que poderiam pegar as melhores obras desses artistas do passado e fazer compilação em álbuns de luxo para colecionadores e bibliotecas, para preservação da memória, como é feito em países gringos. Mas quer saber? Duvido muito que isso aconteça.