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quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ZÉ GATÃO CIDADE DO MEDO, 30 ANOS!!!!!

 


 O artista e também gente finíssima Emir Ribeiro sempre festejou os aniversários de sua mais famosa personagem, Velta. E a primeira vez que vi uma edição comemorativa da detetive super heroína pensei, vou fazer uma edição assim do meu personagem quando ele completar, sei lá, 10, 20 anos, como faz o Emir? NÃO, NUNCA FIZ. Queiram ou não, todos que curtem quadrinhos nacionais sabem quem é a Velta e nosso amado quadrinista paraibano sempre consegue recursos para publicar seus álbuns de forma independente (isso muito antes do financiamento coletivo virar moda). No meu caso, pouquíssimas pessoas sabem quem é o Zé Gatão e eu jamais tive dinheiro para colocar meus álbuns na praça para ir vendendo pouco a pouco através dos anos; se assim fosse teríamos não apenas seis álbuns mas talvez uns quinze ou vinte, ideias para isso nunca me faltaram conforme já comentado neste blog, o problema é que meu cansaço através do tempo e por conseguinte, desilusão, eu fui abandonando todos os argumentos que ganhavam corpo na minha mente. 

Semana passada o amigo Daniel Lúcio me perguntou se eu faria pelo menos um texto para celebrar os 30 anos de concepção do primeiro livro do Felino. Caramba! pensei eu, já passou tanto tempo assim? Agradeço ao Daniel por me lembrar e sugerir pelo menos algumas palavras para não passar batido.

A princípio, devido ao meu momento atual não ser muito auspicioso (pra variar) pensei em deixar pra lá, mas sabem, hoje, pós pandemia, mais que nunca o futuro é uma incógnita. Não sei quanto tempo ainda vou estar aqui e o mundo como nós conhecemos, segundo alguns teólogos e cientistas políticos, pode nunca mais ser o mesmo até 2030. Então vamos memorar hoje.  

Seria legal, uma edição solene com uma HQ inédita emulando meus traços do período e com textos e pinups de outros artistas, não é? Mas na real, sendo bem frio, quem liga para o Zé Gatão além de mim mesmo, alguns amigos e uns poucos fãs? Ninguém mais. E quando eu digo que quase ninguém dá a mínima não estou sendo um cretino modesto, é ninguém mesmo! Haja vista que enviei o PDF do Siroco para umas pessoas que seriam potenciais leitores, uma vez que curtem a minha arte e meus textos e eles nunca leram ou retornaram comentando algo. Cagaram e andaram. Tudo bem, ninguém é obrigado a gostar. Só posso dizer que eu fico feliz de ter esses escassos amigos e fãs que sempre me prestigiam e essa postagem é dedicada a eles.  

Inicialmente essa seria a capa.
 

O que eu teria para dizer sobre esse álbum que eu já não tenha dito? Pouca coisa, minha memória já não é a mesma e trinta anos fazem a diferença. Ao criar a primeira história do personagem em pranchas A3 eu não tinha a menor intenção de seguir essa linha de quadrinho com animais humanizados, eu tinha em mente algo nos moldes do Jardim de Edena do Moebius, mas com uma inclinação para o terror. Mas acabei me afeiçoando a esses antropozoomorfos e Zé Gatão me soou como o porta voz ideal para meus pensamentos naquela época. Repetindo o que já disse em inúmeras ocasiões eu não sabia como compor uma história em quadrinhos, eu intuía, supunha, baseado no que lia desde moleque, mas desconhecia totalmente o que ensinavam o Scott MacLoud e Will Eisner em seus livros, ou seja, fazer quadrinhos não basta ser um exímio desenhista, tem que saber narra os acontecimentos baseados na ciência dessa forma de arte. Mas eu fui seguindo meus instintos.

Zé Gatão, acreditem, já foi mais popular nos cinco primeiros anos, tive um bom feedback do segundo livro tempos mais tarde. O público daqueles tempos estava mais ligado na produção local e as matérias nos jornais e revistas (Crônica do Tempo Perdido ganhou página inteira no Correio Brasiliense), embora fossem mais difíceis de conseguir, tinham mais força e ouso dizer, legitimidade. Os leitores de HQs daquela época, se perguntados: o que você pode me dizer sobre Zé Gatão? Haverá uma resposta, qualquer que seja, ao invés de um "Zé o quê???" Teoricamente a internet com sua propagação de informações deveria ser o veículo modelo para divulgar, o problema é que, como já pontuei muitas vezes, o excesso de coisas que são despejadas continuamente na cabeça das pessoas, torna o produto invisível para a maioria (análise minha). Meu Felino não teve continuidade imediata, o terceiro livro só veio à tona anos mais tarde e ignorado pela mídia, leia-se sites e blogs, atualmente são canais de YouTube com "especialistas" em tudo.

 

O que tinha eu para começar a minha saga? Qual a motivação além de aparecer e tentar viver disso? DESABAFO. Eu vivia, como vivo hoje, em depressão, conceber gibis foi terapêutico, pude me expressar através das palavras e dos traços, ainda que de forma canhestra e, sim, pueril. 

Quando o mundo se torna muito pesado, uma mudança de ambiente, uma viagem, costuma aliviar a tensão. Zé Gatão ganhou vida por causa de uma relação infrutífera que tive com uma mulher que amei muito, foi o fruto de um amor não correspondido. Hoje eu sei que a pessoa não valia o desgaste, mas quando a alma está doendo não é o consciente que dita as regras. Colocando o peso nas costas do personagem botei ele no selim de uma velha moto para sair do stress das grandes metrópoles e fugir das lembranças de uma fêmea ingrata que batizei de Kayleigh (isso mesmo, por causa da música do Marillion, achei o nome sonoro). Ela viria a dar as caras em Crônica do Tempo Perdido.

A história que eu queria era básica, você tenta fugir dos problemas mas os problemas te perseguem e te derrubam. Capturado, o felino é levado a lutar numa arena para delírio de um populacho acostumado a pão e circo pelo ditador da cidade, um equino que batizei de Equus Giordano, para citar Giordano Bruno, o teólogo, matemático italiano queimado pela inquisição.

Uma das pinups que dividem os capítulos.
 

Eu acho a Cidade do Medo, pra ser sincero, uma HQ muito petulante, verborrágica, com firulas desnecessárias e que faz eco, devido a minha inexperiência, àqueles quadrinhos da Marvel anos 60 onde texto e arte são redundantes, balões de pensamento reforçando o que já é visto na ação. Acho as cenas de luta bem elaboradas e talvez eu tenha conseguido transmitir a sensação de tristeza e inadequação do protagonista, eu era perseguido ferozmente pela ideia de suicídio (e ainda sou) mas poderia ter usado menos palavras. Sem que eu tivesse me dado conta, se tornou a válvula por onde escapavam meus arroubos de fúria, o que eu internalizava diariamente, expelia através daqueles rompantes de violência explicitados naquele teatro de truculência. Outro ponto a salientar é o forte erotismo existente na obra. Já fizeram leituras erradas a meu respeito por causa disso. Não sou uma pessoa que só pensa em sexo como supuseram; o Milo Manara não vive enfiando o dedo no cu das mulheres como acontece em seus quadrinhos, Serpieri tampouco, Liberatore não esfacela o crânio das pessoas como o androide que o tornou famoso ou Bernie Wrightson não violava túmulos. Muitos que conheciam o Angeli pelo Bob Cuspe achavam que ele lambia chão de banheiro público, o Marcatti é um decente chefe de família. O que acontece é que os artistas usam recursos narrativos (no meu caso, simbólicos) para dar um tempero extra e assim chamar a atenção do público. Eu confesso que queria chocar também, dar um chute no saco dos nerds que só liam gibis de heróis. Foi um tiro no pé? Talvez, mas eu não pensei no assunto naqueles dias, muito influenciado por publicações undergrounds americanas e espanholas de terror e sci fi, achei que a audiência brasileira estaria preparada para aquilo. Ledo engano.

Um fanzine certa vez classificou o álbum branco do Zé Gatão como excelente, um autêntico herdeiro dos gritos de inconformismo dos jovens dos fins dos anos 70, um verdadeiro punk rock. Não concordo, o punk veio provar que para você formar uma banda não tem que ser erudito como os caras do Rush, basta tocar algumas notas e rugir no palco; sem modéstia, penso que meus desenhos são bem mais que isso e poderiam muito bem ser publicados na Metal Hurlant do primeiro período.

 

Entre o finalização das últimas páginas até a publicação e exposição nas comic shops de São Paulo e Brasília algumas memórias ternas alentam meu coração, lembro do velho apartamento onde morávamos no centrão, meus pais, André fazendo cursinho para tentar o vestibular de medicina, Samanta ouvindo suas músicas no quarto, o Rodrigo trabalhando na banca Olido. Quando o tomo finalmente entrou em gráfica eu ia quase todas as tardes lá na PKR (o bairro de Santa Cecília não ficava tão longe da Rua Guaianazes) para ver as páginas sendo rodadas. O processo naquela época era outro, fotolitos, chapas de metal e coisas assim. Aos poucos eu via o filho sendo gerado. Recordo de minha mãe numa tarde clara e quente, com Samantinha ao lado, me dizer que eu estava esfuziante como ela nunca tinha visto na vida. Pudera, eu estava realizando o meu primeiro sonho.

Houve atraso na entrega dos livros, minha mãe estava de viagem marcada para Brasília para visitar meu irmão Gil e eu  queria enviar uns volumes para ele, assim tiveram que encadernar cinco unidades meio as pressas para aquele fim. Meu irmão da capital federal leu a obra umas cinco vezes seguidas, e não só ele, mais umas duas pessoas chegadas leram mais de uma vez em sequencia, mas eram suspeitas para falar o quanto gostaram. Não lembro de um álbum de quadrinhos com aquela qualidade, formato e tamanho naquela data, talvez as HQs do Mutarelli? Pode ser.

Rememoro a tarde em que a perua da gráfica chegou com todos aqueles pacotes contendo as duas mil unidades de A Cidade do Medo, parecia que não ia caber tudo no quarto onde dormíamos eu, André e Rodrigo. A Livraria Muito Prazer ficava perto de casa e eu era amigo dos donos, ainda assim eu procrastinei mais de uma semana para vender lá. Eu sabia que uma vez exposto ao público, não teria mais volta, ou gostariam ou odiariam, pois ficar indiferentes não seria possível, como não foi. A primeira leva (uns vinte, creio eu) esgotou rápido, assim como os vinte que enviei para Brasília e o Gil levou na banca da UNB que comercializavam muitos quadrinhos. Na Comix da Alameda Jaú, idem.

Matéria na Tribuna de Santos, na revista Sci Fi News e só não teve mais resenhas em publicações especializadas em BD por que alguns editores acharam o conteúdo ofensivo. Admiradores meus acharam que era inveja por parte deles. Não sei.

Tenho orgulho desse primogênito embora contenha as falhas que citei acima. Ainda é o preferido de muitas pessoas por soar bem visceral. Tá cheio de homenagens, citações (algumas ocultas) e símbolos. A única coisa que eu mudaria nele seriam os meus agradecimentos na introdução que faço do livro, estão registrados ali todas as pessoas que de alguma forma, direta ou indiretamente, negativamente ou positivamente contribuíram para que aquilo acontecesse e hoje, depois de muitos anos, alguns desses nomes foram equívocos da minha parte, me deixei levar pela emoção do momento. 

Para finalizar, eu diria que NADA MAL para uma estreia.

Obrigado a todos que acompanharam o álbum branco ao longo dessas três décadas. 

Gratidão, Senhor! 






sábado, 24 de agosto de 2024

FRIVOLIDADES.

A noite está fresca, lá fora bate um vento frio, muito incomum para um lugar perpetuamente quente, no entanto, dentro de casa um calor brando se faz sentir, o ventilador está ligado; claro, como poderia não estar? A vida sem um aparelho desses nessa região do Brasil não seria possível. O silêncio reina nesse exato instante. Tudo está bem no momento, as contas estão pagas - embora eu ainda deva dinheiro a alguns amigos - e eu executo meus projetos sentindo o mesmo desconforto que sempre me perseguiu na vida por não conseguir fazer melhor, não chegar aos pés dos meus ídolos, então, considero que está tudo normal. Há uma paz presente em casa, ainda que ela me soe como aquela calmaria que precede a tempestade. Eu juro que não queria pensar assim, mas as coisas para mim não costumam ser fáceis, por isso quando a esmola é muita o santo desconfia, como dizem. Eu tenho tentado reclamar menos e agradecer mais. Sou muito grato a Deus por essa dádivas e saber que não as mereço faz com que eu me sinta como um cara que foi colocado numa posição de destaque por engano. Mas ok, não vou pensar nisso e viver o momento, Jesus disse para não estar ansioso pelo dia de amanhã, então vamos aproveitar o deleite. 

Apesar disso tudo, a vida continua sem matizes, sem cores, a sensação de solidão não esmorece, a  saudade da família perdida é sentida a cada segundo. Mas as memórias deles me empurram adiante.  

Estou com uma enfermidade nos olhos e preciso consultar um especialista, a vista arde, lacrimeja em abundância, fica embaçada, as pálpebras sempre doloridas e não raro surge um terçol. 

As coisas estão morrendo muito rápido para mim, digo, no sentido de não encontrar mais prazer em produtos que antes importavam. Tipo, consumir um livro. Estou lendo A REVOLTA DE ATLAS da Ayn Rand, um calhamaço de 1.215 páginas, é um bom livro, estou, lógico, nos primeiros capítulos e devido ao tédio que sinto em relação a tudo e na lentidão com que leio atualmente, geralmente nos intervalos entre os trabalhos, devo terminar daqui há alguns anos. 

Uma coisa ainda me seduz: ler um bom gibi. Tenho devorado algumas coisas (geralmente baixadas da internet, embora continue odiando ler quadrinhos na tela do notebook, mas não tem outro jeito) como algumas obras do Zidrou. Mas há HQs impressas aguardando minha atenção, dois deles são o Ominbus do  Brakan, do Mozart Colto e Mort Cinder de Oesterheld e Breccia. Vamos ver se consigo coragem para encará-los.

Música? Não, não tenho ouvido. Dia desses me deu vontade de escutar Fait No More, mas desisti depois da terceira canção do álbum Angel Dust. Não tenho mais paciência para essas coisas.

Cinema, algo que eu gostava tanto, morreu para mim (fiz duas postagens falando sobre o tema, se alguém tiver curiosidade de ler é só chegar lá: https://eduardoschloesser.blogspot.com/2011/06/os-saudosos-cinemas-de-rua.html e https://eduardoschloesser.blogspot.com/2011/06/so-para-finalizar-o-texto-sobre-cinemas.html) os filmes atuais são uma merda em sua maioria, os preços dos ingressos são proibitivos para meus bolsos, é necessário ir ao shopping e o público na sala de projeção é predominantemente idiotizado, falando alto e sempre com celular na mão. Eu até tive vontade de assistir Deadpool e Wolverine assim como Alien Romulus, mas deletei a ideia da cabeça. 

As próximas postagens terão ZÉ GATÃO como tema, na primeira pretendo revisitar o álbum branco que está completando 30 anos. Só tenho que me abastecer de alguma inspiração. 

Fiquem todos com Deus!

 

sábado, 10 de agosto de 2024

AMIGOS DE EXCELÊNCIA (parte 1)

 


 Davi e Jonatas, Sherlock e Watson, Tex e Kit Carson, Kull e Brule seriam exemplos do que eu poderia chamar de amigos fieis.....feliz daquele que tem bons parceiros em sua caminhada pela estrada da existência. Eu e meus irmãos sempre fomos grandes companheiros e nisso eu fui grandemente abençoado pelo Criador.

Tive poucos amigos verdadeiros ao longo do tempo, poderia contar nos dedos das mãos e não passaria disso. Na infância e entrada da vida adulta tive camaradas que eu pensei que levaria para sempre mas as circunstâncias mostraram que os valores não eram os mesmos e os caminhos se dividiram.

Os que conheci depois de velho e até mesmo nessa chamada modernidade tem sido uma grata surpresa. Elton Borges é um desses exemplos. Começamos há vários anos uma relação comercial (ele me encomendava artes dos personagens de games que ele curtia e com o tempo fizemos uma sólida conexão).

Essa semana ele fez um vídeo para falar de ZÉ GATÃO - SIROCO  e eu fiquei bem lisonjeado. O programa foi um pouco mais extenso do que ele costuma criar em seu canal do YouTube e pra variar, pelo que percebo, ele não faz um roteiro prévio, disseca um pouco sobre a obra em questão, falando de maneira informal como se estivesse trocando uma ideia numa mesa de bar de forma nada acadêmica, dando assim à coisa toda um ar bem natural. Tudo isso com uma sinceridade que não fere.

Interessante ele abordar coisas que normalmente não é dita em produções assim. Sobre o canto de cisne de Zé Gatão ele comenta que o livro é gênero que se tornou raro hoje em dia pela maneira como foi concebida: no lápis e no nanquim, sem ajuda de ferramentas digitais. O herói (se podemos chamar meu felino de herói) é aquele que ofende os sentidos dos modernosos de plantão, é macho, hétero, não está preso a uma ideologia e luta pelo bem (sim, convenhamos, temos consciência do que é bom e o que é mal), e aborda os vários núcleos dentro da narrativa e como isso ajuda no desenvolvimento do enredo. 

Não foi a primeira vez que o Elton cometeu um vídeo sobre meu trabalho (PHOBOS e DEIMOS e A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE já deram as caras por lá). Vale lembrar que atualmente somos partners na produção de RASTREADORES DE ALGURES. 

O canal dele não é como os "ei nerd" da vida, com milhares de seguidores e trocentos likes, ao contrário, por isso mesmo, merece da minha parte a mais profunda gratidão.

Tá prometido, por outros chapas, mais uns dois vídeos sobre esse livro. Vamos ver.

Obrigado a todos e fiquem bem.

 

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

A VÍTIMA E O CARRASCO

 Eu queria ser uma pessoa normal, ter uma vida normal. Fazendo uma retrospectiva hoje, nunca vivi na normalidade, é como se alguém tivesse carimbado em alguma certidão no momento em que nasci a seguinte sentença: "SEMPRE EM CRISE". Eternamente vivendo na corda bamba. A luta para me equilibrar e nunca cair no abismo provoca uma fadiga na alma que beira a loucura. Não quero aqui me fazer de vítima, na verdade sou o verdugo de mim mesmo. Sempre meti os pés pelas mãos, principalmente em meus relacionamentos amorosos (um dia terei que escrever sobre isso, na verdade eu já o fiz em ZÉ GATÃO CRÔNICA DO TEMPO PERDIDO mas ninguém notou...ou não deu bola), sempre estrago tudo, não deixo as coisas fluírem normalmente, sempre tenho que entrar de cabeça nas coisas e exigir da pessoa que ela me trate como eu a trataria, seja com um editor ou uma mulher. A Verônica tem muita paciência comigo e não dá bola para as minhas infantilidades, ela está certa, não sou para ser levado a sério. Devo ser uma pessoa monótona e desinteressante, é comum alguém pedir alguma opinião ou coisa que o valha e no momento em que começo a falar já estão olhando para o outro lado ou interrompendo para dizer algo mais urgente e nunca consigo voltar ao assunto. Aconteceu duas vezes essa semana. Um querido amigo/irmão da igreja que frequento atualmente me chamou para distribuir comida, água e produtos de higiene para alguns sem tetos do bairro junto com ele, um outro casal nos acompanhou. O papo rolava legal dentro do carro mas toda vez que chegava a minha vez de redarguir eu era interrompido, como se a minha argumentação não interessasse. Acontece demais aqui dentro de casa. Antes eu ficava chateado, hoje, de boa, não insisto mais em ser aceito, tô tranquilo, fechado em meu mundo. 

Voltando ao princípio, o que é ser normal? Não há resposta certa para isso, mas eu arrisco dizer que a certa altura da vida você poderia se programar para maratonar toda a série Harry Potter ou o trilogia Senhor dos Anéis versão do diretor sem problemas. Para mim isso é simplesmente impossível. Ou propor uma meta de ler tantos livros em um ano. Eu não consigo. Não mais. Dubitável em todas as instâncias, o tempo para mim é algo cada dia menor. Um certo conhecido do Facebook resolveu assistir todos os filmes do Errol Flynn e ele posta suas resenhas, impressões sobre as fitas e cita fatos pitorescos dos bastidores. Confesso que fico com uma ponta de inveja. Até as pequenas obrigações como fazer a barba ou cortar as unhas dos pés me chateiam, é como se essas atos, que não duram nem cinco minutos, roubassem um tempo precioso para coisas mais úteis, como criar os quadrinhos que me encomendaram e vão envelhecendo nas minhas mãos. Eu amo o que eu faço, mas repetindo aqui a metáfora que sempre uso da grávida, é uma bênção ter o bebê nos braços, mas a gestação as vezes pode ser incômoda e o parto é terrível.

A partida do André me desequilibrou totalmente, estou ainda me recompondo, por esse motivo, o último volume da série Mitos Gregos chamado de O Nascimento dos Deuses, eu tive que interromper. As páginas não saíam, simples assim, travaram e não é viadagem de artista sensível.....eu sinceramente não conseguia fluir com aquilo. E olhem que o grosso das minhas contas eu pago com o dinheiro que recebo por este material. A falência esmurra a minha porta. Essa semana devo retornar a ele, se Deus quiser, e só faltam umas vinte páginas para por fim em algo que de prazeroso se tornou uma tortura.

Em compensação Rastreadores de Algures decorre mais facilmente e a HQ de terror sobre a qual não posso dar detalhes, também. Mas isso se explica - eu acho - os roteiros não são meus, eu só preciso corporificar no papel a ideia dos autores, nos Mitos a criação/adaptação é toda minha e eu tenho que espremer tudo em 78 páginas. No Caso do Nascimento dos Deuses, ESTICAR, uma vez que tudo que sabemos sobre os titãs e os deuses na mitologia poderia se restringir a umas vinte folhas.

Mas essa minha batalha com as pranchas em branco diante de mim na prancheta não é nova, Zé Gatão - Memento Mori e A Vida e os Amores de Edgar Allan Poe também foram pesadelos que se arrastaram por anos. A diferença (sim, sempre tem alguma) é que eu não estava tão velho e fragilizado por tragédias pessoais.

O mundo mudou rápido demais do início do novo milênio para cá, os quase 25 anos voaram e eu ainda não consegui me acostumar com as desconjunturas. 

Antes do Siroco eu tinha a intenção de juntar todo o material inédito do Zé Gatão, HQs curtas, bem pessoais, com traços mais modestos, que vinha criando ao longo do tempo nos intervalos dos pagaluguéis (alguns ainda dos anos 90) e publicar mais um álbum. O título seria, a princípio, ZÉ GATÃO - HISTÓRIAS QUE A POEIRA DO TEMPO NÃO PÔDE ESCONDER. Me lembro que um querido amigo chamado Matheus Garcia teve intenção de trazer isso a público mas as circunstâncias não permitiram. Procurando por muitos desses trabalhos ocultos nas centenas de envelopes empilhados no meu estúdio, os que localizei até o momento me transportaram fortemente a esses pretéritos menos confusos. Numa das histórias as personagens usavam telefones públicos, eu nem sonhava com celulares! Ainda faltam narrativas que não estão comigo, publicar por mim mesmo está fora de questão, mas quero reunir tudo, tem coisa ali que pode agradar quem é fã do felino. Se a possibilidade de englobar a totalidade num único volume ao lado do que já foi impresso ainda existir por parte da Editora Universo Fantástico, não quero perder a oportunidade.

Arte feita sem esboço com sobra de nanquim.

 

O poeta Barata Cichetto me falou essa semana que vão fechar todos os blogs. Se for verdade mesmo seria uma pena, embora eu volte aqui a intervalos cada vez maiores, ainda é um espaço  que me sinto a vontade para falar abertamente sobre mim mesmo. E ainda tenho um conto prontinho na minha cabeça para descarregar aqui. O tempo dirá.

Fiquem com Deus e até a próxima (se houver).










AMIGOS DE EXCELÊNCIA (PARTE 2)

   A dura caminhada da vida seria impossível se não tivéssemos uma boa base familiar, a minha parentela sempre foi complicada, eu diria até ...