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terça-feira, 28 de janeiro de 2025

TENTANDO FAZER JUSTIÇA A UM ARTISTA INJUSTIÇADO

 Sobre o título acima eu pensei até em fazer uma série, mas desisti, me lembrei que dois dos maiores artistas brasileiros que conheço já os mencionei (também suas obras) aqui no blog em anos passados e um deles se separou de mim por motivos políticos ideológicos (unilateral, devo frisar). O outro....bem, ele continua atuante, produzindo bem com o enorme talento que lhe é peculiar mas também saiu do radar, nunca mais entrou em contato, Deve ter os motivos dele.

O Celso Moraes F., como ele assina seus trabalhos é um cara que admiro como pessoa e como artista desde o tempo que tive prazer de conheçer, tem opiniões fortes acerca de quase tudo, muito bom gosto para aquilo que acostumamos chamar de arte, música, literatura, gibis, teatro, já atuou como locutor de rádio, professor de português, ator, escreve textos fantásticos e desenha num traço que me é difícil encontrar palavras para descrever, ele odeia o termo underground (eu acho charmoso), mas traduz bem o seu tipo de escrita, que me remete um tanto a um artista que traça no papel suas angústias de uma maneira desesperada, como um Poe moderno acossado por inúmeros fantasmas. Num mundo ideal teríamos vários álbuns com suas histórias marcantes, mas num Brasil ciclópico cheio de incongruências, preconceitos, empáfia, onde o que se cria em países que nem sabem que existimos não fosse pelo café e o Pelé, é mais valorizado que a produção local, não é de admirar que ele continue na obscuridade. Mas no que depender de mim, um pouco de luz sobre sua pequena obra será projetada. Uma coisa que me espanta no Celso é sua memória prodigiosa sobre personagens e gibis gringos que eu nem imagino que exista, o cara é uma enciclopédia ambulante, ao contrário de mim que mal lembro meu nome.

ANTOLOGIA DE QUADRINHOS BEIJA-FLOR EDITORIAL   

 

Uma de suas HQs consta dessa antologia, muito caprichada, pelo que ele demonstra. Eu sempre fico extremamente empolgado e contente quando surgem novidades como essa no "mercado". Lembro quando no final dos anos 90 a Brainstore lançou um gibi do Quebra Queixo, pensei: que bom para o autor, se ele ganha, todos ganham, pois essas coisas abrem portas. Eu estava enganado naquela época e hoje não há mais ilusões sobre o fato. Mas publicações assim revelam talentos e realizam sonhos, pois todo aspirante a quadrinista anela ver seu trabalho publicado e chegando aos consumidores.

Eu recordo que por volta de 2010 a cara do quadrinho em voga naqueles tempos (análise particular) era de tons autobiográficos num traço simples, quase toscos. Eu poderia citar vários exemplos tanto daqui como lá de fora mas prefiro me esquivar de possíveis dardos por parte de algum discordante. Sabem, "tosco" pode ser interpretado como mal feito, e não foi isso o que eu quis dizer aqui..... bem, quase.

O caso é que não sei se é uma onda, mas hoje em dia eu noto que muitos quadrinhos tem essa atmosfera alegre em contornos mais infantilizados, mais redondos, mesmo que o teor seja "down", as linhas sugerem "up".  Há muito disso nessa antologia, a única exceção é a obra do Celso, que destoa do clima positivo da coletânea. Inclusive eu e ele conversamos sobre isso.  

O Celso, assim como eu, sofre de alguns desesperos da alma que nos fazem descrer que o futuro teria algo bom camuflado em algum ponto adiante; essa fadiga por vezes tenta nos dobrar e nos fazer desistir, mas sempre aparece uma novidade que nos obriga a levantar e dar mais alguns passos, eu com ZÉGATÃOVERSO e ele com essa bela antologia em capa dura.

Parabéns, Celso! 


 

  

4 comentários:

  1. Não conheço o Celso o tanto quanto o Eduardo o conhece. Mas o pouco que vi dele em seu canal e na sua bela performance naquela 1a Live do Gatão me fizeram gostar dele e admirar seu profissionalismo invejável - no bom sentido - Eduardo demonstrou este Artista pelo que ele é! Talentoso, profícuo e movido pelas suas angústias que é o combustível de sua obra! Infelizmente não reconhecida como as obras de tantos/tantas Artistas por este ciclópico Brasil como bem o diz, o Edu! Ainda assim, o Celso é seu trabalho são admiráveis! E no fim é isto o que realmente conta! Não concordam?

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  2. Infelizmente vivemos num país em que o talento real parece ser quase um crime, um lugar onde a ode ao mediocre é a regra. Seu post me fez lembrar dos dias finais do Gedeone Malagola. Quanto ao estilo dos traços atuais, concordo quando menciona que hoje são meio infantilizados (no sentido de suavizados, arredondados, fofinhos), gosto mais do clássico com linhas definidas e realistas, esse fenômeno ocorre também nos jogos eletrônicos, parece até que transformaram os personagens todos em "chibi".

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    1. Engraçado isso, essa forma de se fazer arte num determinado padrão de tempos em tempos. Lembro de certa vez ler uma a adaptação de um clássico da literatura americana desenhada pelo Mike Ploog que eu pensei que era o Will Eisner, e o Eisner mesmo fazia umas artes que lembravam o Jack Davis. Num período, acho que nos anos 50, era difícil dizer quem desenhava o que entre Frank Frazetta, Al Williamson e Ângelo Torres, amigos que se revezavam nos desenhos e finalizações dos comics daquela época. São "escolas" eu diria. No caso dos "toscos" ou fofinhos, são tendências, talvez. Mas nada me tira da cabeça que em alguns haja preguiça de estudar e procurar um estilo mais marcante. Mas na minha modesta opinião, esses traços mais simplificados com roteiros pessoais, muito da culpa cabe a uma tal de Marjane Satrapi.

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TENTANDO FAZER JUSTIÇA A UM ARTISTA INJUSTIÇADO

 Sobre o título acima eu pensei até em fazer uma série, mas desisti, me lembrei que dois dos maiores artistas brasileiros que conheço já os ...