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terça-feira, 18 de maio de 2021

DIVAGANDO

 Boa noite, amados e amadas!

No sábado passado, dia 08, véspera do dia das mães fui à rua logo cedo fazer umas compras para o almoço de domingo. No meu atual estado de espírito estar na rua não é ruim, deixo os pensamentos, as lembranças me levarem para onde queiram, boa parte delas chamam lágrimas aos meus olhos e dou vazão, deixo que com elas o amargor que me oprime o peito desague e esvazie um pouco a tristeza que me preenche. Saí com um sol massacrante me tostando a pele e antes de pegar o ônibus que me deixaria no bairro de Piedade, fui até a lotérica pagar uma conta, havia uma fila monstra, pra variar. Não liguei, eu tinha (tenho) muito o que ruminar e observava as pessoas. Antes muitos desse anônimos me forneciam matéria prima para alguns personagens de minhas histórias, não todos mas os que eu julgava mais sui generis, fossem em seus comportamentos ou biotipos, desta vez não, sinto a fonte seca, não me sinto animado sequer para imaginar algum conto ou HQ; como já disse, não há estímulo se minha mãe ou meu irmão não estiverem presentes para compartilhar os sonhos comigo, eles eram os mais entusiastas. Depois de um longo tempo a operação foi feita e fui em direção a avenida próxima à praia pegar o ônibus, no horizonte, uma nuvem negra como a noite, vinda do mar, prenunciava uma feia tempestade. Tudo bem, pensei, tudo a ver. 

O veículo seguiu pela orla e eu, mesmo sem querer, lembrava de um gesto, palavra, momentos e o coração apertava, observava a nuvem ciclópica despejar sua fúria molhada sobre a cidade e pensei que teria que cumprir minha tarefa todo ensopado, não era uma boa perspectiva mas, fazer o quê? Desci com grossas gotas caindo raivosas e me abriguei sob a marquise de um hotel outrora luxuoso, desativado. Lembrei-me que fora naquele hotel que o Gil e sua família se hospedaram certa vez quando vieram para Pernambuco há uns anos atrás (não lembro mais o período, curioso que não consigo me lembrar de datas recentes dos últimos 15 anos). Enquanto eu ali, solitário, visualizava a pista encharcada, me veio à memória uma música do Antônio Marcos chamada "Por que Chora a Tarde".  A identificação comigo não podia ser mais precisa. Não pude refletir muito sobre o assunto, duas mulheres velhas, vindas da praia, se aproximavam, com passos lentos, resignadas com o toró inundando suas cabeças e as minúsculas peças de roupas que cobriam seus corpos encarquilhados. Uma trajava blusa fina e bermuda branca, com sua máscara contra vírus pendendo do queixo, a outra estava de biquíni, sem máscara, exibindo pele flácida, peitos caídos, uma barriga um tanto protuberante e longas pernas finas, uma tatuagem no cóccix (que não lembro o que era) chamava a atenção para ausência de bunda. Tinha os cabelos pintados de loiros e um band aid na testa, olhou para mim limpando as gotas do rosto e dizendo "de que adianta correr se já estou toda molhada, não é mesmo?" Eu disse, "é isso aí". Ficaram conversando entre elas e o tempo deu uma estiada, corri para atravessar a rua sentindo o vento e as gotículas me molharem, como banharam a mim e minha mãe tantas e tantas vezes - a mesma chuva cantada pelo Antônio Marcos - pensando que o mesmo aguaceiro apagava os passos dela e do Gil da estrada da vida. Chorei enquanto caminhava em direção ao mercado, não dava para impedir. Lá dentro, adquiri o abacaxi e as batatas que a Verônica precisava para sua alquimia culinária.    

Depois segui para outo entreposto chamado Leão para mercar a carne moída, o verdadeiro motivo d´eu fazer compras longe de casa. Vera acha que a carne deste lugar é melhor que os outros estabelecimentos e confia na procedência. Atravessei a rua fora do sinal pois as águas ali estavam na altura dos meus tornozelos, os caros circulavam devagar e passava muito rente a mim, a ideia de morte não me desagrada, mas não atropelado. Findo minha tarefa voltei para casa.

O domingo foi pesado para mim, a comida e a sobremesa estavam espetaculares, mas as reminiscências me rodeavam por todos os lados. Dias das mães era sagrado eu ligar, cumprimentar minha genitora e receber sua bênção, agora não mais, nunca mais!

O dia transcorreu assim, sorrisos breves, recordações, circundado por melancolia, lágrimas, trabalho, esposa, sogra e cunhado ao redor, vivendo seus momentos (porque é necessário viver e seguir a vida) e eu imerso em memórias, acolhido por saudades e prantos na surdina para não contaminar a eles com minhas comoções. Mas foi um dia com a misericórdia onipresente de Deus.

Assim passou o meu primeiro Dia das Mães sem Francis e sem o Gil.   

6 comentários:

  1. Olá, Eduardo! Força aí em sua caminhada, sei, bem mais pesada depois de todas essas perdas. É muito difícil tentar te animar quando eu mesmo ainda penso muito em meu saudoso pai, mas tenho certeza que sua mãe e irmão sentem sua energia e gostariam que você ficasse forte, pois o amavam, não há dúvida. A gente não se conforma nunca com essas perdas, mas sinta-se abraçado neste momento. Fique com Deus...

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    1. Querido Gilberto, muito obrigado! É duro, está sendo bem duro, mas Deus tem dado Sua graça. Claro que sempre vou abordar a minha saudade aqui, não tenho como evitar, mas vamos seguindo. Mais uma vez obrigado por vir aqui e pelo abraço! Você é alguém muito especial! Grande abraço!

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  2. Felizmente, minha mãe tomou a vacina (a de Oxford), mas não é idosa e sim, funcionária da Prefeitura de Alvorada na função de serviços gerais.
    O que me preocupa são essas novas sepas e mutações desse vírus escroto com ajuda ou não de corjas desgraçadas irresponsáveis.
    Me mordi de raiva hoje a tarde, quando vi naquele abominável "Casos de Família" um magrão contando que fica de saco cheio de ficar em casa e o que o tal boçal infeliz faz?! Cai na balada sem máscara, mesmo passando álcool gel, mas crente que as bebidas alcoólicas que consome o esterilizam, além de banhos quentes depois do rolê.
    Que vontade de mergulhar na TV e esmigalhar aquela praga até os ossos!!

    Abraço!

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    1. Pois é, rapaz, e além desses problemas que você citou, tem a própria vacina. Qual a eficácia? Quais os efeitos a longo prazo? Quantas doses serão necessárias? Vivemos num mundo louco!
      Obrigado por seu comentário.

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    2. Dizem que precisa tomar 2 doses, não importando qual seja (Oxford, Sputnik, Coronavac...). Caso sofra efeitos colaterais, podem durar cerca de 3 dias. Pois é... vi que os médicos cravam um agulhão no braço

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    3. Já ouvi dizer por aí que duas doses podem não ser suficientes....bah, falam tanta coisa. É pagar pra ver.

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