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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

POSFÁCIO PARA UMA EDIÇÃO DE "OS MORTOS VIVOS"

Fui convidado para escrever o texto final para a décima edição de "Os Mortos Vivos" da Editora HQM. Muita gentileza de Carlos Costa, o editor.
Sou um fã do gênero, como poderão constatar, e se você ainda não leu a saga, não sabe o que está perdendo, é muito superior a série de tv originada dos quadrinhos que é campeã de audiência nas emissoras que a exibem, e olhem que a série arrebenta!
Bem, a décima edição com o posfácio deste vosso humilde escriba já está na praça faz um tempo (a capa exibida aqui, atesta), então, creio que já posso compartilhar com aqueles que não conhecem a série, afinal nem todo mundo aprecia este gênero de história, ou tem acesso a este material, segue o texto. Enjoy.



"Minha relação com os mortos vivos vem de longa data. Sou fascinado por eles, tanto que criei uma hq com o tema intitulado "Carne Crua" para um álbum (ainda inédito) muito antes deles virarem moda.
Meu primeiro contato com estes defuntos andantes aconteceu pra valer, se não me falha a memória, em 1979, quando assisti num pulgueiro em Padre Miguel (RJ) ao "Dawn of Death", o segundo da trilogia do mestre George A. Romero (aqui, batizado de "Zombie, O Despertar dos Mortos", aquele em que um casal e dois caras da Swat se refugiam num shopping). Li a muitos anos, em algum lugar, que este é considerado um dos filmes mais violentos da história. Devo ter visto esta película mais de 10 vezes (acreditem, naquela época os cinemas de rua eram baratos pacas). Fez tanto sucesso que gerou uma infinidade de imitações, todas sofríveis, apesar da boa intenção por parte de seus realizadores, que iam de Dário Argento a Lucio Fulci.
Anos depois, caiu-me nas mãos um VHS pirata do "Day of the Dead" (este é o da base militar subterrânea) que fechava a trilogia idealizada por Romero - excelente - mas que fracassou redondamente nas bilheterias. Foi ali que vi pela primeira vez alguém ser decapitado com uma pá. O primeiro filme da série (o clássico "Night Of The Living Dead" de 1968) só assisti na década de 90, lançado em VHS pela Continental - fabuloso!
Fama e título de lenda viva renderam a Romero um orçamento mais gordo para realizar um novo episódio de sua saga com os zumbis no novo milenio, "Terra dos Mortos", bom filme, assim como o seguinte, "Diary of the Dead", mas parecia que a fórmula havia se esgotado. Os mortos demonstravam ter virado arroz de festa, estavam em todos os lugares e mídias (até os heróis Marvel viraram zumbis canibais).
No meio de tanto besteirol apareceu um cara como o senhor Robert Kirkman pra reinventar a roda, criando OS MORTOS VIVOS. Não levei fé na primeira vez que botei as mãos numa edição importada na loja da Devir (faz tempo), apesar dos desenhos do Tony Moore me chamarem muita atenção. Não liguei mais para o fato, até adquirir o primeiro encadernado lançado pela HQM. Virei fã na hora. A estrutura do enredo, o desenvolvimento de cada personagem e a coragem de dar destinos funestos a eles como faz o autor, mostra que a série ainda vai surprender muito; como se não bastasse, ainda temos a série televisiva baseada nos gibis, que não fica devendo nada às melhores sagas destes cadáveres ambulantes.
Não dá mais para voltar atrás, os Zumbis estão em todos os setores da cultura pop: quadrinhos, games, música, cinema e literatura, em paródias e pastiches, e apesar da super exposição que este gênero de história de horror sofre, OS MORTOS VIVOS resistem bravamente nas trincheiras (ao contrário dos vampiros, que por mais que espremam, o caldo de sangue que verte, já não causa o menor impacto).
Muito já se teorizou do porque deste sucesso, alguém disse que é por causa do medo que todos sentimos da morte e os cadáveres andantes personificam este temor de forma sólida. Para mim, eles são o ponto máximo do niilismo. E se Romero e seus congêneres já nos mostravam um mundo caótico onde não há vias de acesso, Robert Kirkman veio provar que ainda é possível descer mais fundo na fossa, mas ainda assim manter um fio de esperança. Rick e Calr estão aí para provar.
Nesta edição, o que vimos é (ainda) a mais cruenta luta pela sobrevivência, mostra que para nos pretegermos, e acima de tudo, para defender aqueles a quem amamos, somos capazes de atos nunca antes imagináveis. Chega a ser assustador a maneira como Calr reage à certas situações. Antigas amizades e confianças começam a ruir e quando este elo se parte, o frio na barriga parece aumentar, por acreditarmos qua a união é uma aliada poderosa contra o mal comum, e ainda me impressiona constatar que o ser humano é capaz das mais requintadas crueldades. Abraham, um novo e cativante personagem, será um substituto de Tyreese na vida de Rick? Ou perderá o controle e porá tudo a perder? Mal posso esperar pelo próximos números.

Sabem, metafóricamente falando, é possível ver estes zumbis se arrastando por aí, e não falo só do coitado que envolto em panos malcheirosos, dominado pelo crack, perambula pelas ruas das grandes megalópoles, mas também daqueles que de alguma forma devoram sua carne, sua essência, no dia a dia, entupindo sua cabeça com excessos de informações e realidades fabricadas que te mantêm dopado e pronto para o abate. Reacionário eu? Talvez, mas os noticiários que de manhã à noite nos esbofeteiam o rosto não deixam dúvidas, os mortos caminham entre nós.

 Eduardo Schloesser é ilustrador e quadrinista, criador do personagem Zé Gatão"

4 comentários:

  1. Que bacana, Eduardo! Ainda não li nenhuma edição dessa HQ, mas vou providenciar. Belo texto. Estou assistindo a série e é muito boa. A HQ, como você disse, deve ser ainda melhor...
    Ótimo final de semana e grande abraço,

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  2. Salve, Gilberto!
    Sabe, no princípio me aborreceu certas mudanças da série de tv com relação as hqs, depois entendi que a tele-série era um derivativo da obra em quadrinhos, uma extensão, ou mesmo uma história alternativa com os mesmos personagens (bem, alguns personagens são omitidos ou agregados nas respectivas mídias), sendo assim é como se tivéssemos nos deleitando com duas narrativas próximas e no entanto bem diversas. Eu acho a hq superior, pois ali as situações são mais dramáticas e mais plausíveis, sei lá. Mas as duas são ótimas. Leia a hq e comprove.
    Pretendo em breve fazer um post dedicado quadrinho Walking Dead.
    Muito obrigado e um abração.

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  3. Que legal!

    Fora isto, já assisti a DIA DOS MORTOS (o Day of The Dead, mencionado), ano passado e em DVD.

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  4. E aposto que você gostou.
    Não sei, acho que os primeiros filmes do Romero tem uma dramaticidade e violência bem peculiares, concorda?
    Abração e obrigado por me acompanhar.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...