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segunda-feira, 6 de maio de 2013

A GRANDE FESTA.


Dia destes trocava umas ideias com um amigo virtual sobre o que penso do atual mercado de hqs no Brasil. Nada novo. Continuo pensando que não há mercado algum, o que temos são uns bons artistas com muito gaz para publicar suas histórias, encontrar uma casa para suas criações ambicionando vender bastante, viver de escrever e desenhar quadrinhos, ter uma legião de fãs, assinar muitos álbuns e serem endeusados por uns tantos que por sua vez também almejam o mesmo espaço no pico do cume.
Todos nós, artistas gráficos de qualquer lugar do planeta, sonha ou já sonhou com isto. Nada de mal, penso que é um dever lutar para a realização dos objetivos. Sempre que sou indagado sobre como se chegar lá, eu respondo que não sei, porque simplesmente não sei onde "é lá", nunca cheguei lá, esta é que é a verdade. Meus álbuns de hq não vendem bem, "nobody cares", por que negar? Os materiais didáticos já tem uma melhor aceitação, porque há na verdade um monte de gente querendo aprender o ofício, mesmo que isto não gere uma nova geração de leitores do material nacional. Completando minha resposta, digo para estudarem muito, assimilar de tudo e ter sua própria identidade.

Temos hoje vários artistas fabulosos publicando aqui e lá fora, malharam um bocado e lutaram o mesmo tanto para levar suas criações aos que poderiam faze-las chegar ao grande publico. Alguns levam 10, 20 anos, outros menos tempo, outros ainda, tempo algum. Eu diria que uma grana a mais ajuda bastante, afinal te dá acesso a bons materiais, te leva a lugares onde o mercado resiste e cá pra nós, o mundo trata melhor aquele que é mais afortunado financeiramente. Poderíamos dizer que é o caso da sorte aliada ao talento. Num país como o nosso, tão atrasado ainda em muitas áreas, temos que nos contentar com a força de vontade na maioria das vezes.

O que temos no final das contas? É notório que a coisa teve avanços significativos, pois quando eu comecei a trilhar este caminho, não haviam auto-publicações, não tínhamos álbuns de hq alternativas, o Marcatti publicava ele mesmo suas revistas e levava aos pontos de venda, que não eram muitos, álbuns de lombada quadrada de autor? Talvez alguma coisa do Mutarelli. Em 1997 editei eu mesmo o primeiro livro de Zé Gatão nos moldes dos álbuns europeus com temática semelhante aos da finada El Víbora. Demorou um bocado pra ele ser assimilado, e até hoje acho que não foi, penso que o público ainda é muito viciado, mas não quero falar disto de novo.
Hoje em dia os quadrinhos ganharam status de cult, conquistaram espaços nas livrarias conceituadas (embora este fato tenha restringido boa parte do público), editoras de peso criam selos para publicar o que elas pensam ser o fino da bossa, tanto daqui como de fora. Festivais pipocam aqui e acolá, e vemos surgir vários talentos. Assemelho a uma grande festa com uma mesa farta. No entanto os convidados ainda são poucos. Existe uma fatia para todos do bolo, mas infelizmente poucos degustam, o que sobra se perde nos intermináveis ciclos que vão sucedendo de tempos em tempos.
Porque ocorre isso? Eu pensava saber a resposta, mas não creio que possa ser tão simples. Há mais falhas na engrenagem do que ouso imaginar. O que é certo é que num espaço muito curto de tempo, o público mudou drasticamente, se antes as hqs eram janelas para os voos de imaginação, hoje ela tem de lutar com outras mídias principalmente os videogames.

Hoje em dia recebo convites para "a festa", me pedem imagens para exposições, histórias em quadrinhos para e-books a serem comercializadas lá fora e criações novas para publicações que vão surgindo no cenário nacional. Grana? É sempre um assunto delicado, afinal todos os bem intencionados que me fazem os convites também estão tentando se estabelecer, é sempre a questão da tentativa, tentar fazer a nave decolar. Por isto sempre questiono quando se fala de "mercado".
Colaboro na maioria das vezes, fico lisonjeado por ser lembrado, mas a verdade é que não tenho a mesma energia de outrora, hoje tenho que lutar para continuar pagando minhas contas com meus desenhos, há uns problemas de saúde que não ajudam, daí, não consigo mais sentir tanto entusiasmo. Mesmo assim coloco a minha melhor roupa e sigo para "a festa". Nenhuma limusine vem me pegar, por isto ainda espero aquele ônibus que não tem hora certa para aparecer.

2 comentários:

  1. Puxa! Que raio-X. Análise a meu ver perfeita. Acho que é por aí mesmo. Estou lendo o livro do Gian Danton sobre a Grafipar, e a semente daqueles dias poderia ter germinado mais forte. Eu sei que os tempos são outros. Mas temos que ser realistas. Felizmente (ou infelizmente) somos brasileiros, e não desisitimos nunca.
    Um grande abraço,

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    1. Gracias, Gilberto.
      Sabe, acabo de ler uma matéria num blog sobre uma hq que deverá sair no final do ano ou início do próximo. Um quadrinho com premissa muito boa, porém um tanto batida, mas as artes e cores estão sensacionais, o que prova que estamos mais que maduros pra abastecer o mercado nacional (se ele existisse). Contudo, o organizador vem pedir contribuições pra coisa rolar a contento, ou seja, você leitor contribui com o que puder e no lançamento da revista ganha alguns bônus. Noto aí uma certa tendência, autores consagrados já lançaram mão deste recurso pra ver sua obra nas mãos do público. Isto só vem confirmar duas coisas, primeiro, realmente não existe um mercado promissor, senão não haveria necessidade de "puxar" grana de fora. Segundo, brasileiro, como você disse, não desiste nunca, pois lança mão de todos os artifícios para ver sua criação na praça. Muito válido, mas eu ainda acho que não deveria ser assim.
      Abração.

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