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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

CONTOS FLUMINENSES ( 03 )


Meus pés estão me matando. Na verdade o culpado é o meu pé direito, mais precisamente o calcanhar. O problema não é novidade, quando eu era um pobre coitado em São Paulo (hoje sou apenas coitado), lá pelos idos de 93/94, eu sentia essas ferroadas nos calcanhares (eram os dois que me atormentavam). Eu andava muito a pé em calçados inapropriados (talvez). Alguém falou em esporão no calcâneo. Cheguei a criar uma história em quadrinhos abordando a doença (nunca foi publicada). Mas, sei lá, sempre tive resistência em procurar ajuda médica se eu pudesse suportar o desconforto, ademais dor física de alguma forma me mantinham conectado com o mundo que girava ao meu redor, como se a pobreza do lugar, minhas crises de depressão e alguma algia aguda tivessem tudo a ver, como se estas interligações fossem naturais. Claro que não eram e eu sabia disso, mas a dor parecia apropriada ao tipo de existência que levava, pelo menos naqueles tempos. Ouvi muitos queixumes de pessoas por causa do mesmo problema, é algo mais comum do que se possa imaginar.
O tempo passou e num belo dia me dei conta que os pés não doíam mais. Sumiu assim como começou, sem que eu me desse conta.
Este ano voltou com força total. Tudo aconteceu após uma corrida que fiz, depois do esforço o quadril e o calcanhar começaram a me torturar pra valer. O quadril passou, mas o espasmo no pé resolveu insistir em me lembrar que este mundo não é lugar para descanso, que se o incômodo não for naquela região será num outro lugar, não há como fugir.
Claro que dessa vez fui ao ortopedista, afinal hoje posso pagar um plano de saúde. Ele fez uns testes e pediu um exame específico. Realmente é o tal esporão no calcâneo que tem modificado o meu jeito de andar. Não voltei ainda ao médico para ver qual o tratamento para isto. Digo sempre pra Verônica que tal semana vou sem falta, mas minha vida toda foi uma guerra tremenda pra conseguir nem que fosse uma hora pra mim mesmo, como se eu tivesse um encontro comigo e nunca comparecesse. Algo sempre se interpõe. Talvez eu seja louco; aliás, tenho certeza disso, se não fosse eu não insistiria em viver de rabiscar e borrar papéis com pigmentos, teria arrumado um emprego quando era mais novo. Acho que reclamo demais, tem gente por aí morrendo de câncer, dormindo nas sarjetas e cobertos de bichos.

Ontem eu e Verônica fomos a uma consulta no cardiologista que já estava marcada a tempos, ainda bem, ela não esteve legal na segunda feira, muita dor de cabeça e mal estar, mas felizmente tudo está bem com nossos corações, pressão normal e tudo o mais, ela deve ter tido mesmo uma enxaqueca braba.

A noite fui comprar uma medicação numa farmácia mais distante, pois o desconto lá é bom, Vera insistiu para que eu fosse de ônibus por causa do pé. Fui. Viagem perdida, a compra era pra ser feita no cartão e o sistema estava fora do ar. Cara, isto me deixa puto! Esta semana não pude postar uma encomenda no correio por que o tal sistema estava fora do ar. O dia que este sistema lascar de vez voltamos à idade da pedra!
Ao invés de tomar o ônibus, resolvi voltar caminhando pela praia. O pé incomodava mas enquanto eu puder andar, vou andar. Gosto de observar as pessoas. Elas caminham e caminham, talvez pelo mesmo motivo que eu, talvez para emagrecer, quem sabe para fugir de si mesmas, elas tem muito medo de morrer, não há dúvidas. A maioria se pergunta o que será o mundo sem elas, depois que pararem de respirar. O que importa? Os outros continuarão a levar seus cachorros pra cagar, isto é certo.
Cheguei em casa levemente exausto. Planejava trabalhar mais um pouco mas meu cunhado mais novo me alugou relembrando algumas pegadinhas do Silvio Santos. Rimos, foi bom. Tomei mais um banho, assisti com a Vera mais um episódio de Hells on Wheels e fomos dormir.

E para fechar a semana, mais uma arte do livro do Machadão.
Sim, acho que nos próximos dias eu vou ao doutor ver se há algo a ser feito pra melhorar esse pé.



10 comentários:

  1. Olá, Eduardo
    Venho do blog da Camila Monteiro (que eu não conhecia), onde fui ler um conto da minha querida amiga Carla Ceres.
    Vi a imagem que ilustra o conto, que achei excelente, e resolvi dar aqui uma saltada para conhecer este seu espaço.
    Gosto muito do que em Portugal chamamos de "banda desenhada" - não sei se no Brasil tem o mesmo nome.
    Admiro muito os autores deste tipo de trabalho. Nos meus tempos de estudante fui sempre muito boa a desenho (guardo ainda alguns desenhos bastante bons - modéstia aparte...), mas seria incapaz de fazer desenhos deste tipo. Considero-o um trabalho muito difícil (apesar de, como referi, ser boa em desenho, o que, penso, ainda o valoriza mais...).
    Estive olhando os desenhos anteriores e mantenho a minha opinião - você é bom mesmo nesta arte!

    Bom fim de semana.
    Beijinhos
    Mariazita
    (Link para o meu blog principal)

    PS - Estava a esquecer-me :))) Essa cena do esporão no calcâneo é mesmo muito chata. Conheço algumas pessoas que têm (ou tiveram) esse problema - caso de meu filho e meu marido (falecido há 16 meses)
    entre outros - e, pelo que se queixam, calculo que as dores sejam, por vezes, insuportáveis.
    Não tenho conhecimento de nenhum tratamento específico, para além de uma tala em silicone, receitada pelo ortopedista, colocada no interior do sapato.
    Desejo suas melhoras.

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  2. Salve, Mariazita. muito obrigado por suas palavras tão carinhosas.
    A "banda desenhada" aqui no Brasil é chamada de "histórias em quadrinhos" ou "gibi" (para explicar este segundo nome eu levaria muito tempo) e é ainda uma arte pouco valorizada, inclusive soube que na Europa, onde ela sempre gozou de mais prestígio, os ventos não sopram mais tão favoráveis. Seria mesmo? Bem, aqui em terras brasileiras vamos tentando criar um mercado, a coisa melhorou muito mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.
    Você mencionou que desenhava nos seus tempos de estudante, não desenha mais? Gostaria de ter o prazer de ver suas artes algum dia.

    Sim, realmente as informações que obtive quanto ao tratamento prescrito pelos ortopedistas para tentar diminuir esta tortura consiste em colocar palmilhas de silicone para aliviar o impacto. Vamos ver o que me recomenda o médico quando eu for vê-lo.
    Poxa, seu marido partiu a pouco tempo, você deve estar sentindo muitas saudades, hein! Sinto imensamente.

    Grato por sua visita e recomendações.
    Beijos e volte sempre.

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  3. Dor no pé, sistemas fora do ar... ninguém merece.

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  4. Dor no calcanhar é terrível. Aliás, qualquer dor persistente é terrível. Me fez lembrar de uma história contada numa palestra:
    Um viajante, ao passar por uma casa, reparou em um cachorro que gemia incansavelmente. Ao lado dele, sentado em uma cadeira, o dono da casa e do cachorro. O viajante perguntou o que ocorria. O senhor respondeu:___É que o ele está sentado em cima de uma tábua com pregos. "E por que ele não se levanta? retrucou o viajante. ____É que não está doendo tanto assim, finalizou o senhor.
    Essa história serve para mim, que vivo também sempre adiando a visita ao médico. Mas você está se cuidando. Vou pegar o exemplo.
    Ótimo final de semana pra você e a Verônica.
    Abração

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    1. História interessante, Gilberto. grato por compartilhar, uma boa lição.
      Obrigado pela visita e bom fim de semana pra você e a Graça.
      Abraços.

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  5. Oi, Schloesser! O Leroy também teve que usar palmilha de silicone por causa dessa tal dor no calcanhar. Foi um podólogo que recomendou. Como as dores diminuíram, não consegui convencê-lo a procurar um ortopedista. Espero que você e a Verônica melhorem rápido. Agora há pouco, chegou o Zé Gatão em perfeito estado. O Leroy e eu fugimos um pouquinho do balcão pra folhear o álbum. Rapaz, que trabalho bonito! Li a primeira história e ia continuar lendo no embalo, quando a boa educação me lembrou de entrar em contato com você e agradecer. Muito obrigada! Agora vou voltar pra revista, porque deixei o pobre gato numa situação mal parada. Quando terminar, comento melhor. Abraço!

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  6. Olá, Carla, como foi dito nas minhas respostas acima, vamos ver o que o médico me diz, só não sei se poderei ir semana que vem. há muito o que fazer nos próximos dias, ir ao médico é perder um dia inteiro praticamente. Tudo é feito de ônibus, trânsito, espera interminável nos consultórios, enfim... mas irei assim que der. A Vera já está bem melhor, obrigado, as vezes ela tem umas crises feias de dor de cabeça.

    Quanto ao álbum do felino taciturno, espero que você se divirta.
    Obrigado e um grande abraço.

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  7. Que semana essa né?!
    Tem dias que nos pega mesmo. Espero que vocês melhorem logo... Adorei a ilustração!

    Beijos!

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    1. Nem me fale Camila, esses últimos dias tem sido complicados, mas a vida é assim mesmo, cheia de altos e baixos.
      Muito obrigado pelas palavras.

      Grande beijo.

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