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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

AO SOM DO SINO

O fôlego falta. A cabeça gira. Mal consigo perceber onde estou. Os deltóides queimam no esforço de manter os braços em guarda. As luvas pesam como chumbo.
O adversário ataca com um cruzado de direita. Percebo a tempo de me desviar. Mas não o suficiente para evitar um gancho de esquerda rápido como um látego. Vou à lona. 
Como quem se esforça para escapar de um sonho mal, ouço a voz do juiz fazendo a contagem, tento me erguer, vencer o peso do corpo que insiste em ficar colado ao chão. Num tempo que parece durar uma eternidade estou de novo em pé no ringue da vida, encarando o Destino, meu adversário que me encara com escárnio. Num segundo, sofro diversos jabs, as pernas vacilam, o sangue jorra do nariz, supercílios, por todos os meus poros. 
Foram tantas lutas perdidas, esta seria apenas mais uma. Tantos opositores. Descaso, Recalque. Fracasso. Solidão. 
Alguns eu derrotei.
Os rounds desta peleja durará até sexta-feira. Até lá, devo resistir. 
Um uppercut e sinto meu cérebro tentando escapar da minha caixa craniana. A menos que o impossível aconteça e eu consiga derruba-lo, a luta para mim já está perdida por pontos. Porque prossigo então? Me nego ser nocalteado.   
Destino luta sujo, golpeia com o cotovelo. O árbitro, não vê. Meus golpes atingem o vazio, ele se esquiva bem. Agora ele me esmurra os rins. O juiz deve ter sido comprado. 
Não posso mais. A vista antes turva agora escurece por um segundo. 
Ouço o sino. 
Bem a tempo.
No meu corner, ouço a voz daqueles que torcem por mim. Meus irmãos à direita, amigos à esquerda. Minha esposa e minha filha à frente. Eles dizem pra eu levantar a guarda. Pra eu resistir. Não os ouço direito. Escuto apenas zumbidos estáticos. 
Lembranças. 
Como as das imagens abaixo. Personagens criados para uma historia do gato que criei e nunca foi publicada. Mais uma luta que perdi.
Ao som do sino eu procuro forças nas pernas para me levantar. Onde elas estão?  Sem saber exatamente como, estou de novo no centro do ringue. 
Destino. Nunca acreditei nele. Devo vencer para provar que ele não me controla, mas sim eu a ele.
Com o único olho semi aberto que ainda tenho, noto ele avançar como um touro enfurecido. A multidão delira. A luta prossegue.



6 comentários:

  1. Caralho, Du! Como alguém pode fazer essa transposição do que se sente para um texto tão bom, seguido de ilustrações muito do caralho???

    (Desculpe o excesso de caralhos!)

    Mas, é sério, usa numa h.q., meu!!! Muito bom!!!

    E lembre-se: ONLY THE STRONG SURVIVE!!!!

    Abraços!!!

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  2. Mister Brazil, estes bichos foram criados para uma HQ do Zé Gatão com animais africanos, lá pelo fim da década de 90. Como demorava muito para escrever o roteiro, por causa de um sem número de adversidades, o texto acabou "cristalizando", então abandonei o tema e consequentemente os personagens. Há um monte deles nos meus envelopes, criaturas nunca usados em histórias. Mas quem sabe um dia?
    Obrigado pelos elogios.
    Abração.

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  3. Show de bola esse texto, Eduardo! Bacana ver que tá tirando as teias de aranha desses envelopes.
    Abração,

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  4. Obrigado Gilberto.
    Aos poucos antigas artes e esboços
    vão vendo de novo a luz do dia.
    Forte abraço.

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  5. Rapaz, além de um poeta com a prancheta tu também é com as palavras. Que incrível esse texto, ainda mais seguido por essas imagens. Genial!

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    1. Eu tenho meus momentos, Matheus. Muito obrigado. A luta ainda não acabou.

      Grande abraço!

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