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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

ADEUS 2024!

 2024 foi um ano estranho, para mim todos são, na verdade, mas este foi esquisito particularmente. 

No que tange a trabalhos foi normal e a recompensa financeira me permitiu quitar quase todas as minhas dívidas, restando apenas saldar compromissos com dois varões de Deus (como tais, eles dizem para eu não me preocupar, para pagar no meu tempo), continuo devendo dois cartões de crédito.....é, está tudo muito caro, eu me sinto mais velho, mais fraco e bem menos entusiasmado com os desenhos, com os quadrinhos, tanto assim que li muito pouco deles (Mort Cynder, Zanardi e Sombras Da Morte do Corben), não me recordo de nenhum filme ou série que valha a pena comentar e sobre livros ainda continuo lendo umas poucas páginas por dia do A Revolta De Atlas, da Ayn Rand, mas nem sei se vou continuar, o livro é ótimo, mas......

Entretanto será o ano que ficará marcado como aquele em que perdi meu irmão André, meu amigo.....saudades e lágrimas diárias, não há como evitar e não permito que percebam, vivo entre vivos como se estivesse morto, sentindo uma solidão tenebrosa. Os dias passam como sempre onde a única coisa tangível continua sendo o medo. A Bíblia fala sobre o medo (“No amor não há medo, antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve tormento; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor.” 1 João 4:18 – AR).), mas mesmo convicto sobre as promessas divinas, quase sempre me afogo no desespero de tentar resolver situações evitando violência e força bruta (o caminho mais rápido para debelar uma ameaça mas que cobra o preço duro de mergulhar a alma no inferno). Eu tenho lutado muito contra um ódio crescente dentro do meu coração. Sei que isso não agrada a Jesus.

O ano finda com a boa notícia de um livro do Zé Gatão em prosa mas paralelo a isso uma situação angustiante que já dura mais de 20 anos emergiu do inferno com força e fúria, cuspindo no meu rosto e adoecendo minha esposa. Uma tragédia é prenunciada a partir de 6 de janeiro. Deus evitará? Da minha parte só posso orar, mas fraca como é, minha fé vacila quase sempre. Misericórdia, Senhor!

Outra boa nova é que o projeto MITOS GREGOS para a Ciranda Cultural foi finalmente concluído. E a editora não tem previsão de quando vão lançar, não está programado nem para o segundo semestre de 2025. É esperar.

Especialistas em geopolítica, pastores experts em batalha espiritual, não vaticinam nada de bom para o ano que chega. A nós, que somos pequenos, quase nada, só nos resta esperar que DEUS, o Pai, tenha piedade.

Se esforcem, tenham bom ânimo! Entreguem suas vidas a Jesus!

FELIZ 2025!!!!


Live legal de ontem. O vídeo para conferir.

sábado, 28 de dezembro de 2024

LIVE SOBRE ZÉ GATÃO VERSO CHEGANDO

 


 Olá Amantes da Sétima Arte, Cinéfilos de Plantão e Apaixonados por Quadrinhos!

Nesta segunda-feira, 30 de dezembro tem CLUBE DO FILME PODCAST:

"CONHEÇA O ZÉ GATÃO VERSO!"

Convidados:
- EDUARDO SCHLOESSER
- CELSO MORAIS ( @celso.f.moraes )
- LUCA FIUZA (@luiz.fiuza.94 )
- BARATA CICHETTO (@baratacichetto )

O bate-papo começa às 20H!

Acompanhe pelo Canal do YouTube CLUBE DO FILME PODCAST!

Apoio:
@rockbowloficial @goparkcaruaru @nutriavespet

sábado, 21 de dezembro de 2024

ZÉ GATÃO EM PROSA FINALMENTE PUBLICADO!!!!

 


 Boa noite a todos!

Não era minha intenção postar hoje, planejava algo para o dia de Natal, mas essa é uma ocasião que não dá pra deixar passar, trata-se da publicação do ZÉ GATÃO VERSO pelo selo Poetura Editorial.

Vamos aos fatos: aqueles que me seguem de longa data com certeza sabem que o Luca Fiuza, um amigo de infância, fã do Felino casmurro, concebeu através da sua inimitável pena, várias histórias do personagem através dos anos, começou com Seca Cruel em 2011 e terminou com Inferno Verde em 2019, 90% ilustradas por mim nas mais diferentes técnicas. Sempre foi o meu desejo ver essas sagas publicadas em um livro. Tentei vender esse material para alguns editores e as respostas quase sempre eram as mesmas, vamos aguardar um momento propício, vamos ver se o personagem se torna mais popular nos quadrinhos antes de leva-lo à outras mídias.....uma conversa que ouço desde que me integrei nesse meio há uns trinta anos. Mas é isso, nada na vida desse gato é fácil assim como para seu criador.

Mesmo tendo aposentado o bichano nas HQs, ainda persistia em mim (assim como ainda espero ver os antigos álbuns republicados) a ideia de levar os contos a um público mais amplo. E isso acabou acontecendo, como um presente de Deus, nesse dias conturbados, quando recebi do Luca uma mensagem de que o poeta Barata Cichetto tinha intenção de reunir todas as histórias (e mais duas inéditas) num tomo bem caprichado. Vibrei, claro! Liguei para o poeta e conversamos, dei minha autorização e carta branca para ele proceder como melhor lhe conviesse em relação ao material, afinal ele entende muito de edição de livros. 

 

Como tudo começou com o artista multimídia Celso Mores F. apresentando o meu trabalho ao Barata - vindo o Luca e seus textos na sequência - nada mais coerente que convidá-lo a executar a capa, que, diga-se de passagem, ficou um show a parte. Reunimos assim quatro talentos para um produto único.  

O livro finalmente já está a venda neste link: https://poeturaeditorial.com.br/produto/zegataoverso-contos-de-luca-fiuza-ilustrados-por-eduardo-schloesser/   

 

Devo frisar aqui que as ilustrações coloridas que fiz, nesta edição estarão em preto e branco, se optássemos por cores no miolo o projeto ficaria inviável dado ao auto custo.

 Conto com  seus comentários, divulgação e claro, aquisição desse material, se vocês curtem o ZÉ GATÃO, e acima de tudo boas histórias escapistas.

Nos encontramos de novo na postagem de Natal, se Deus quiser, combinado? Até lá!  


 



quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

LONGE DO MEU VERDADEIRO LAR

 A minha casa não é a minha casa, ela é mais a casa da minha esposa e, talvez, nem dela, mas das demais pessoas que habitam conosco.

A casa do meu pai nunca foi a minha casa embora eu tivesse habitado com ele a maior parte da minha vida. Ali, sim, a casa era dele e de mais ninguém, pois ele reinava soberano.

As casas dos meus irmãos nunca poderiam ser a minha casa, e nem deles pelo que pude sentir, mas antes, eram das esposas deles.  

Mas por um curto período de tempo, a casa da minha mãe foi a minha residência, onde me senti livre, protegido e amado, Por uma semana, em 2015, e em outros breves dias em 2018 e 2019, eu tive um lar. Se somar tudo, não chegou a um mês. Ficou gravado na minha memória e aqueles dias e noites nunca se apagarão, somente quando eu fechar os meus olhos para essa realidade.

Eu sei, aquele que pretende seguir a Jesus não tem morada nessa terra, Ele nunca teve, Ele não era desse mundo, como nós, que O aceitamos, não somos desse mundo. Ele é a Videira Verdadeira, nós somos o quê? Apenas os ramos enxertados pela infinita misericórdia do Pai. 

Esse é um mundo louco, um mundo tenebroso, de trevas e lágrimas com breves instantes para sorrisos e abraços sinceros. Essa sempre foi a base para as histórias do Zé Gatão, sem lugar seguro, seja nas cidades, nos desertos, florestas ou mar, sempre tem aqueles que borram a pintura, cospem nos pratos alheios, pisam nas cabeças dos fisicamente mais fracos e depois de perpetrar suas violências, conseguem dormir se sentindo seguros.

Me sinto velho, me sinto cansado. Me sinto usado e abusado, jogado num canto como um bagaço de cana espremido trocentas vezes. Não tenho uma casa, não tenho um lar, mas se eu me esforçar e não cair no caminho, um dia habitarei numa casa que não foi feita pelas mãos dos homens. 

Uma cena de Rastreadores de Algures.

 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

GIORGIO CAPPELLI (artistas ainda desconhecidos - ou ignorados - pelo grande público)

 


 Meu estúdio está uma bagunça mas não tenho pique para organizar. Fiquei assustado quando o Facebook veio com aquelas paradas de "lembranças" com uma arte que postei lá há um ano atrás. Era uma cena de O NASCIMENTO DOS DEUSES! Meu DEUS! Então já estou trabalhando nesse tomo há um ano?!?! Não dá para acreditar que estou tão lento! Não admira que estou sempre na pindura. Mas me deem um desconto, não levo uma existência normal, podem acreditar. Mas me propus finalizar esse ano e o farei!  

Semana passada passei por um revés de saúde bem feio. Febre e sangue. Mas não se assustem, já estou melhor. É esse velho motor às véspera de completar 62 anos que já dá sinais de pifar a qualquer momento.

Noto que as visualizações deste blog caem dia a dia, hoje foram em torno de 50. Mas enquanto tiver uma presença, eu continuo a me expressar aqui, ainda que cada vez mais espaçadamente.

Mas vamos ao que interessa. Essa poderia ser uma série, mas os artistas com quem tenho contato atualmente são tão poucos que não justificaria o termo. Mas vamos falar do Giorgio Cappelli. Um cara muito legal, extremamente bem humorado, um dos únicos que consegue fazer com que minha cara feia sorria e, por vezes, gargalhe.

Artisticamente falando, acho que ele é mais conhecido pela série de tiras tendo o saudoso professor Olavo de Carvalho como tema central chamado TRUE OUTSTRIPS, que conta já com dois álbuns, e detalhe, tal produto aprovado pelo próprio Olavo. Além desse título tenho ainda os álbuns RASTREADORES DA TAÇA PERDIDA, O EXTRACURRICULAR CUCARACHA e A ARDENTE FIVELA DE BILA, todos muito divertidos e fortemente influenciados pelo estilo franco-belga, quem já leu as BDs Spirou e Fantásio, sabe a que me refiro.

O Giorgio já tem estrada, vez por outra ele é entrevistado nos programas locais de cultura em Sampa, mas assim como este que vos escreve, ele é ignorado pela tal mídia dos quadrinhos nacionais e os motivos chegam a ser óbvios. Mas ele é do tipo que não desiste e tenho certeza de que veremos muitos outros materiais na praça.

Esse post despretensioso tem apenas como objetivo homenagear um artista de mão cheia e de grande coração, nada mais.

Para entrar em contato com ele para mais informações sobre suas HQs é só procurar por Giorgio Cappelli no Facebook ou Instagram (https://www.instagram.com/true_outstrips/reel/DBGvNG2pvhe/.)

Grande abraço a todos!


 

 

 











sexta-feira, 15 de novembro de 2024

ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu deveria preencher papeis e papeis criando quadrinhos e ilustrações, mas sinto um cansaço avassalador, sou tomado por uma prostração que me atemoriza pois sinto que vou matando as horas na espera de um fluxo de energia que me catapulte de forma a eu terminar o que vai envelhecendo nas minhas mãos e essa injeção de adrenalina não acontece. Todos os dias peço a Deus que Ele me permita terminar esses projetos que, parecem que se esticam e ficam cada momento mais distantes dos meus olhos. Eu poderia culpar a idade - e pode ser que ela tenha grande culpa mesmo, afinal, com o avanço dos anos vamos ficando mais lentos em tudo - ou poderia atribuir essa lassidão às pressões cotidianas como fazer dinheiro e viver sempre sob tensão, mas sinto que é muito mais do que isso, essa fadiga chega a ser espiritual, é quando chegamos naquela encruzilhada, olhamos para os quatro cantos e não vemos um horizonte definido.

Fui tomado por essa angústia quando realizava A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE, mas mesmo naqueles anos eu trabalhava como um asno e o trabalho fluía. Hoje fica a impressão de que só caminho para trás.

Noite passada eu trabalhava em uma boa página de O NASCIMENTO DOS DEUSES, a prancha não era tão difícil, já fiz coisas bem mais complicadas mas a mão, o braço e o ombro doíam de cansaço, os olhos ardiam e não faltava muito para o fim, mas como eram quase 4h da madrugada, resolvi parar para dar continuidade quando acordasse. Tomei meu banho e me deitei, o sono me abraçou mas não foi reparador, após umas horas tive que me levantar para aliviar a bexiga (essa HBP é um dos tormentos que tenho que enfrentar na vida) e isso se repete umas duas ou três vezes todas as noites, de forma que esse sono picado cobra seu preço no decorrer do dia, principalmente no período vespertino. Consegui terminar a tal página dos Mitos hoje pela manhã mas sem euforia. Não falta muito agora para o final, mais umas 10 páginas e a capa, no entanto, tá difícil demais dar continuidade, eu nem sei direito porque. Tenho também os RASTREADORES DE ALGURES para dar prosseguimento, o projeto que envolve o filme de terror e as encomendas que sempre me ajudam a pagar pequenas contas. Dito isso, posso afirmar que tenho desenhado mais do que em qualquer outra época da minha vida, mas sem o mesmo contentamento de outrora. Reparo hoje que no ontem minha batalha era pela necessidade mas também por auto afirmação - o que envolvia um certo prazer em gerar - e isto, se não se perdeu, acabou se camuflando dentro de mim.

Eu queria muito não fazer nada.....estou cheio. Mas a carestia me levanta pelos cabelos e me empurra com força para a frente.

Findo os Mitos e Rastreadores eu perco minhas fontes de renda. Tenho procurado e não tenho conseguido trabalhos novos, não que eu tenha como dar conta, mas.....

Faz muito calor.  

Bem, depois do desabafo, vamos ao tema da postagem.

Encontrei o Thony Silas algumas vezes numa vida anterior, quando meu mundo ainda tinha cores. Ele é uma big star que trabalhou (não sei se ainda trabalha) para as grandes editoras estadunidenses. Talentoso, humilde (coisa rara), boa praça e diz que gosta muito do que eu faço.

Antes do fim do mundo, que aconteceu em 2020, eu sempre ia aos eventos de HQs que aconteciam em Recife e cruzava com o Thony, numa dessas vezes ele me presenteou com uma fanart do Zé Gatão. Ele disse que não ficara satisfeito e que faria uma muito melhor. Eu argumentei que não tinha necessidade mas ele insistiu. Ok, agradeci e falei que ficaria aguardando. Nos vimos umas duas vezes num hipermercado aqui perto da minha casa (parece que ele está morando aqui no bairro). Nos cumprimentamos brevemente e depois mais nada. Para quem não conhece o trampo do Silas, o Instagram dele é esse aqui: https://www.instagram.com/thonysilas/p/DARiJVjRZkO/?img_index=1

O desenho que ele fez do Felino ficou dentro de um envelope e esses dias, por acaso, encontrei. Ei-lo:


MUITO OBRIGADO, THONY!

Muito obrigado, amadas e amados, até qualquer hora.



 





  

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

QUADRITOS 17

 Boa noite amados e amadas!

Recebi ontem (ou foi anteontem? bem, não importa) a minha edição impressa do fanzine Quadritos cuja capa criei e tive o privilégio de ter nele publicado uma das primeiras HQs que fiz na vida, intitulada PARANÓIDE. Essa foi uma que sobreviveu ao tempo e às frequentes mudanças de moradia. Eu tinha umas ideias boas no início dos anos 90 embora meu traço fosse bem tosco, cheguei  a executar umas coisas interessantes mas infelizmente não sei que fim levaram, só sobrou essa.

Tem ainda uma entrevista que o Marcos Freitas e o Ciberpajé Edgar Franco fizeram comigo onde falo um pouco sobre o meu método de produção (será que alguém se interessa?).

Esse fanzine eu já tinha em versão digital e agora tenho a impressa, formatão legal (30x21), boa impressão.

 MUITO OBRIGADO, MARCÃO E SERGINHO!

Nem sei se este material ainda está disponível na Editora Atomic, mas quem estiver interessado não custa tentar. O contato pode ser através desses dois e-mails: atomiceditora@gmail.com e sergioyamabuchi@gmail.com 

Fiz um videozinho para ilustrar essa breve postagem, mas como podem notar, sou extremamente amador e desajeitado com essas coisas, até esqueci de desligar o som do meu notebook e dar uma organizada na minha velha prancheta. Mas o que vale é a intenção, não é?


Um beijo a todos e fiquem com Deus!        

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

VINTE OITO DE OUTUBRO DE 2024

 SE VOCÊ AINDA  ESTIVESSE AQUI EU JÁ TERIA TE LIGADO PARA DESEJAR FELIZ ANIVERSÁRIO. VOCÊ ME PERGUNTARIA SE ESTÁ "TUDO CERTINHO", EU RESPONDERIA QUE SIM E INDAGARIA SOBRE SUA VIDA E A RESPOSTA SERIA "TUDO 100%", ERA SEMPRE ASSIM QUANDO NOS FALÁVAMOS.

MEU DEUS, QUANTA SAUDADES!

PASSO PELA VIDA FINGINDO VIVER, TENTANDO CUIDAR DA FAMÍLIA QUE TOMEI SOBRE MINHA RESPONSABILIDADE, COMO NÁUFRAGO AGARRADO A UMA BOIA QUALQUER. E SIGO NA ESPERANÇA DE UM DIA REENCONTRÁ-LO NA ETERNIDADE.

FELIZ ANIVERSÁRIO, AMADO IRMÃO, MEU AMIGO! 

ATÉ UM DIA.



sábado, 26 de outubro de 2024

VINTE E SEIS DE OUTUBRO DE 2024

 FELIZ ANIVERSÁRIO, MEU AMOR! 

TENHO OUVIDO FREQUENTEMENTE DOS ANALISTAS POLÍTICOS, PASTORES E DOUTORES NA BÍBLIA SOBRE O FIM DO MUNDO. PARA MIM O FIM DO MUNDO JÁ ACONTECEU, ELE SE DEU LOGO NO INÍCIO DE 2021 QUANDO NOSSO SENHOR TE LEVOU EMBORA PARA MORAR COM ELE, PARA NÓS QUE FICAMOS, RESTOU APENAS A SOLIDÃO E O VAZIO, MAS SOU GRATO AO PAI DAS LUZES POR GUARDÁ-LA E LIVRÁ-LA DOS MALES DESTE MUNDO TENEBROSO. 
A SAUDADE É TORTURANTE MAS O AMOR CONTINUA INTACTO, AGUARDANDO O DIA DO REENCONTRO. 

 BEIJOS, MAMÃE, ATÉ BREVE!

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

ZÉ GATÃO, ESSE ETERNO INCOMPREENDIDO

 

Arte criada por Louis Melo, um jovem artista que admiro muito.

 Amados e amadas, boa noite!

Uma coisa aprendi com o meu pai e com um chefe que eu tive: fazer o exato oposto do que eles faziam; eles, frequentemente valentões, diziam o que lhes viesse na telha se confrontados, desafiados ou colocados contra a parede, não raro partiam pra vias de fato, ou seja, corriqueiramente fechavam portas atrás de si. Vocês sabem, a vida é uma gangorra, pra um subir, o outro tem que descer. Uma hora você é o patrão, na outra você é o submisso. Os dois costumeiramente nadavam na merda por causa desse comportamento impulsivo. O ser humano é vingativo por natureza, "um dia te pego, filho da puta, goze sua vitória enquanto pode". Se não tenho algo bom para dizer a respeito de uma pessoa, não digo nada e montado nesses cavalos de batalha eu consegui algumas realizações, hoje, porém, arrisco a dar um tiro no meu pé, mas sabem, foda-se, não tô mais na idade de ficar cheio de dedos com pessoas que valem menos que o peido de um cachorro. Minha ética, porém, ordena que eu não chame os bois pelo nome e assim farei.

Antes de entrar no assunto dessa postagem, permitam-me informá-los sobre como estou.... na verdade não sei bem como estou.... ainda faço três refeições ao dia, bebo água limpa, durmo numa cama asseada, tomo pelo menos dois banhos diários (manhã e noite) e no âmbito profissional desfruto de um certo prestígio entre a meia dúzia de pessoas que curtem meus traços e cores, então posso, sim, dizer que estou bem. Entretanto ainda vivo numa apreensão que subtrai toda paz que um lutador honrado deveria sentir dentro de sua casa. Tenho trabalhado nos projetos que vocês estão fartos de ler aqui mas o dinheiro continua difícil e as coisas a cada dia aumentam de preço, sem contar que sei que meu luto não terá fim. Feita essa meditação, voltemos ao tema proposto.

Sabemos todos que Zé Gatão nunca alcançou sucesso comercial - os prováveis motivos já foram  debatidos aqui - apesar do heroísmo do Jotapê Martins (Via Lettera), Leandro Luigi Del Manto (Devir) e Marcos Freitas (Atomic). 

Eu tentei fazer a minha parte, divulgando, procurando editores, jornalistas da área e..... artistas de quadrinhos! Tudo para fazer o personagem se tornar popular para que ele fosse melhor aceito. 

Uma dessas tentativas foi em 2000 ou 2001, por aí. O Jotapê, editor da Via Lettera havia me feito suspense sobre uma publicação que, segundo ele, revolucionaria o mercado de quadrinhos no Brasil, tratava-se da Front. Pesquisem no Google, se tiverem interesse em saber do que se trata, as imagens abaixo podem trazer uma tênue luz.

 A Front, pelo que percebi, tentava emular a Raw, periódico americano um tanto revolucionário editado pelo Art Spiegelman, algo do tipo, alternando quadrinhos, artigos, poemas e ilustrações. 

Os artistas responsáveis pela dita revista eram cartunistas, digamos, alternativos, que publicavam em jornais e ilustravam alguns magazines do período (não, Los Três Amigos não faziam parte desse time) e eu conheci alguns, tipos talentosos mas cheios de empáfia, julgando-se grandes intelectuais que nos lançamentos das Front (fui em dois) discutiam Moebius e Corben e se indagavam de forma bastante blasé sobre o futuro dos comics.

Um desses artistas (um dos principais cabeças do projeto) era mais chegado a mim, não porque ele achasse que meu trabalho valesse mais do que a merda que ele largava em sua privada, mas porque ele passava de vez em quando pela banca de jornal em que trabalhei. 

Depois de uns números eles começaram a publicar a Front com temas específicos como sonho, feminilidade, ódio, morte e por aí vai. O tal artista sempre me perguntava se eu conhecia algum colaborador à altura da publicação e certa vez eu ofereci uma HQ curta do Zé Gatão. Bem sem graça ele disse que precisava consultar os outros editores da Front, que não dependia só dele. Claro que se ele quisesse o Gato estaria lá. Eu sabia que não ia rolar, como não rolou, normal, ninguém é obrigado a gostar e publicar, eu entendo isso, mas a forma como se deu a negativa é que deixou um gosto de barata na minha boca e não  saiu por anos. Não vou entrar nos detalhes, não vale a pena, mas ficou estampado ali um preconceito que eles insistem em negar.

A tal da Front que revolucionaria o mercado não fez sucesso e parou depois de uns números. Não sei se deixou saudades.

Processo idêntico se deu com a Ragú, uma publicação mix envolvendo HQ, artigos sobre temas variados sempre com ilustrações de aspecto vanguardista, só que essa era de Pernambuco. Cheguei a ir na festa de lançamento de uma das edições (argh, festa horrível! E eu cheguei a pagar para entrar. Mas horrível para mim, odeio essa merda com som alternativo à meia luz composta de pessoas tipo universitários maconheiros discutindo os problemas do mundo onde toda porcaria possível pode ser vista como arte).

 

Dessa vez, um dos capitães da Ragu perguntou se eu não queria colaborar com a revista e eu sugeri um quadrinho colorido do Zé Gatão e ele respondeu que o Felino não tinha o perfil da publicação. "Ora essa, a Ragú tem perfil específico?" perguntei, o artista riu meio sem jeito e a conversa tomou outro rumo.

Essas foram duas entre tantas rejeições sofridas e não é coisa do passado, recentemente, durante uma live, um grupo de pessoas sugeriram a uma "importante" editora um encadernado do Zé Gatão e receberam um sonoro NÃO. Repito, ninguém é obrigado a nada, mas poderiam dizer assim: "pois é, quem sabe? Seria legal ter esse personagem no catálogo, mas no momento estamos agendados até tal ano, depois veremos" e a coisa ficaria o dito pelo não dito, mas essa elite não perde oportunidade de descartar, não só a mim, mas outros que não fazem parte da patota.

Lembrando que a HQ recusada pela Front foi publicada no Especial PADA e a rechaçada pela Ragú saiu na revista Zé Gatão - Pintura de Guerra.

Sabem, no final  das contas isso até pode ter sido bom, minha mãe sempre falava: "Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que diz", tivesse eu sido sucesso e estivesse no meio de muitos que atingiram o cume, eu poderia ficar inchado e não reconhecer o sacrifício do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo na cruz. De que vale o homem ganhar o mundo todo e perder a sua alma? Eu digo isso não como quem procura compensação, acreditem, todas essas coisas são lícitas, mas é um prazer momentâneo, tudo na vida passa, estar em paz com o coração sem se corromper com as coisas desse mundo vale muito mais.

Obrigado e fiquem com Deus!

 

 

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

ZÉ GATÃO, UMA PINTURA RÁPIDA

 


 Eu disse em uma postagem anterior que meus próximos textos seriam sobre ZÉ GATÃO. Tivemos minhas reminiscências a respeito do álbum branco conhecido como Cidade do Medo que completa 30 anos e também os meus planos para uma trilogia que nunca aconteceu, onde teríamos as ocorrências entre DAQUI PARA A ETERNIDADE e SIROCO.

A próxima versará sobre alguns álbuns de antologias onde o Felino cinzento recebeu um sonoro NÃO. 

Hoje temos o passo a passo de uma pintura feita para um amigo que sequer conheço o rosto, mas por quem tenho uma imensa dívida de gratidão que nunca poderá ser paga. 

Num desses meus momentos de desespero onde eu precisava saldar um dívida, me vi num beco sem saída acossado por ferozes hienas. Tentei pedir socorro aos amigos mais próximos mas eles também não estavam em condições de oferecer a mão. Nem solicitei ao meu irmão André pois ele já havia me acudido pouquíssimo tempo antes. Guiado - estou certo - por DEUS, eu resolvi, na maior cara de pau, pedir a um amigo virtual chamado Adalberto Eliazar. Eu e ele trocávamos ideias via Messenger de vez em quando a respeito do Felino macambúzio, uma vez que ele se denominava um fã e leitor fiel dos meus livros. Solicitei, na maior vergonha, a importância desejada e ele disse sim. Sem graça, agradeci muito, ele pediu o meu pix e assim pude me livrar das hienas. Disse que devolveria na primeira oportunidade e essa tal demorou longos meses, até que finalmente tive condições de recambiar. No entanto ele se recusou a receber dizendo que se sentiu honrado em me ajudar, que um dia ele também precisou e entendia a situação. Envergonhado, aceitei, pois aquela importância ainda era necessária para mim.

Essas coisas não tem ouro que possa pagar. Um amigo não precisa ter anos de estrada, não precisa ter um rosto, basta ter amor pelo seu próximo como instruiu Jesus. Eu só posso fazer duas coisas, honrá-lo aqui dando nome aos bois e registrando o seu ato de justiça e indeniza-lo com uma arte exclusiva do Zé Gatão, que ele diz gostar tanto.

O título do post diz pintura rápida mas não foi tão fácil assim. Eu teria terminado em menor tempo mas meus outros compromissos e o caos a que sou submetido diariamente me fizeram demorar um pouco. Registrei algumas etapas com um celular que não era dos melhores e aí está. Não vemos dedicatória pois eu a coloquei no verso da arte. Não sei se já está na moldura (eu confesso que gostaria de ver).


 

   



Usei aquarela e lápis de cor sobre papel canson. Coisa simples. Não sou desses artistas com grana para material ponta de linha, me viro com o que tenho à mão.

Se o nome Adalberto Eliazar não é estranho para alguns, é natural, os mais atentos se lembrarão de algumas fanarts dele que postei aqui e também de uma resenha que ele fez do Siroco.

É claro que outros queridos amigos já me ajudaram financeiramente e eu nunca citei aqui, mas pretendo fazê-lo oportunamente.

Deus abençoe a todos vocês que me acompanham neste espaço. 

sábado, 28 de setembro de 2024

ENTRE ZÉ GATÃO - DAQUI PARA A ETERNIDADE E ZÉ GATÃO - SIROCO, O QUE ERA PRA TER SIDO MAS ACABOU NÃO ACONTECENDO

 

 

 Postagem para todos, claro, mas direcionada particularmente aos fãs do felino macambúzio. Trata-se do seguinte: os meus planos para uma continuação direta de DAQUI PARA A ETERNIDADE. Devo ressaltar que nunca escrevi um roteiro formal (salvo alguns momentos mais inspirados contendo alguns diálogos, que reproduzirei para vocês), tudo estava só dentro da minha cabeça. O que eu matutava vem bem lá detrás enquanto trabalhava em MEMENTO MORI, que era o desenvolvimento de uma saga envolvendo o conflito entre os mamíferos (por tabela, aves e répteis também) contra os habitantes dos mares. Cenas iam e vinham na minha cabeça mas nunca tive tempo de sentar e pensar firmemente nisso. Ao final de Eternidade propus me dedicar a este projeto, a intenção era uma trilogia, mas não lembro bem porque, talvez causado pela falta de tempo (nesse período, que foram os primeiros anos de 2000, me dediquei a trabalhar em manuais de desenho e álbuns de anatomia porque era o que pagavam as minhas contas) eu fiquei apenas amadurecendo as situações. Em vez de escrever o roteiro base, eu cometi HQs curtas do Felino enquanto aguardava a oportunidade de publicar Memento Mori. 

Quem me acompanha conhece o enredo, parte desses quadrinhos curtos viraram o Especial PADA em 2011 e mais para o meio do ano Memento Mori ganhou vida pela Devir, mas não na integralidade, meu material foi dividido em duas partes, Daqui Para A Eternidade seria a continuação, prometida para ser publicada seis meses depois. Como sempre acontece, os tais seis meses viraram cinco anos. Confesso que isso me quebrou um pouco a moral, mas continuei produzindo quadrinhos (A Vida e os Amores De Edgar Allan Poe, O Bicho Que Chegou À Feira) e continuei desenvolvendo quadrinhos breves apenas para minha auto satisfação, entre eles rascunhei cenas que viriam a ser a tal "trilogia do desastre". Quando finalmente Eternidade veio à luz do dia eu pensei: pra mim chega, não aguento mais isso! Zé Gatão finda aqui. Um desfecho bacana (embora um final alternativo tivesse a ver com a proposta da trilogia imaginada) e ponto final! Só que, claro, não foi o derradeiro, umas das curtas que eu tinha começado se chamava Siroco, que eu precisava terminar, e sem que eu planejasse ela foi se agigantando e ganhando proporções épicas, tendo tudo a ver com o tal apocalipse dos animais. 

SIROCO ganhou editora mas eu precisava concluir, a Atomic então (pra meu enlevo) publicou PHOBOS e DEIMOS. Finalizado o Siroco veio a pandemia e adiamento da edição, o vírus chinês quebrou irremediavelmente a minha alma e quando o álbum veio a público depois de uma campanha fracassada no Catarse, eu decidi definitivamente por um ponto final na carreira do Gato.

Mas eu estou ciente de que ficou um buraco entre os livros de 2015 e o de 2023. A tal trilogia nunca acontecerá, mas o que planejei e o pouco que escrevi vou dividir com vocês agora. 

ROTA DE COLISÃO era o título que pensei a princípio para primeira parte da trilogia. Seria um álbum não muito longo, umas 60 páginas, se tanto, narrando as razões pelas quais os serem aquáticos ameaçavam os terrestres, discursos ecológicos demagogos, uma situação de guerra fria que entrou em ponto ebulição. Daria trabalho realizar esse tomo, a maioria das imagens seriam splash pages e páginas duplas. Cenas de encontros e conferências nessas ONUs da vida, quadros de grandes tsunamis, batalhas entre peixes e mamíferos, corpos mortos nos oceanos e nos montes mais altos do planeta. Zé Gatão nem apareceria nesse preâmbulo, o que seria, talvez, um problema, pois o leitor espera ver o protagonista pelo menos em algumas cenas. A solução, seria, quem sabe, alternar imagens do que pensei para a terceira parte com a primeira e a segunda, só para inserir o Zé. Mas essa ideia não me agradava.

 

A CIVILIZAÇÃO FEIA E O INVERNO DA MORTE seria o nome da segunda parte. Nesse Armagedom sem vencidos e vencedores, uma nova ordem mundial liderada por porcos reconstruiria uma atual civilização a partir dos escombros, prometendo um venturoso recomeço a quem jurar fidelidade ao novo partido. Essa sequencia mostraria intrigas palacianas alternadas com cenas de violência nas arenas da morte fomentadas como pão e circo para um populacho sedento por emoções fortes. As cenas nos gabinetes revelariam que os suínos mais poderosos financeiramente sempre estiveram nos bastidores manipulando presidentes dos conselhos, juízes, militares de alta patente e etc, criando situações de guerra e no apogeu da crise se esconderam em seus bunkers para ressurgir com as soluções para as crises, reinando como senhores absolutos. Mas mesmo entre eles as disputas pelo poder motivava traições e assassinatos criando fissuras no novo regime. Seria a sequência com mais textos e com certeza a mais trabalhosa de desenhar.

 

BARRACUDA! Parte final da trilogia. Se passaria alguns anos após os eventos trágicos de Daqui Para A Eternidade. Minha intenção nessa sequencia seria mostrar Zé Gatão morando numa casa modesta nos confins de uma floresta ao lado de uma gata de meia idade, porém ainda muito bela. Haveria uma comunidade de animais relativamente pacíficos próxima a ele. O felino estaria mais velho, mais gordo, bem mais cansado e ainda tendo pesadelos com as mortes ocorridas na cidade de Vallejo. Apesar do sossego e silêncio reinante no bosque, o nosso gato não dorme exatamente numa cama de rosas, sempre haverá um espinho ou outro para atormentá-lo, no caso aqui, a fêmea que vive com ele não se sente feliz, o companheiro tenta fazer com que ela fique bem, se esforça para que ela tenha conforto e mantimentos, se sinta protegida, mas ela, entediada, anseia conhecer as metrópoles, acha o mestiço muito reservado e não raro o sente assombrado por lembranças funestas. A tristeza dele é contaminante e ela quer partir mas não sabe como fazê-lo. Essa parte duraria, talvez, umas dez páginas sem texto, os gestos, os olhares e tal falariam por si. Um belo exercício de narrativa. Tudo caminharia assim até que ele tem que ir ao vilarejo comprar alguns mantimentos e lá uma certa agitação mostra que o bucolismo do lugar será azedado em breve. Os noticiários transmitidos pelos rádios e tvs nos empórios relatam os primeiros conflitos com os peixes nas cidades litorâneas. Preocupado, como que pressentindo o que está por vir ele retorna para a casa que construiu, para estar ao lado da fêmea que ele sabe, não é feliz ao lado dele. Junto a ela, tenta entabular uma conversa, acariciá-la, mas ela, como de costume, queixa-se de dor de cabeça e diz que vai deitar cedo. Ele, constrangido, fica ali, na varanda da pequena habitação, olhando as estrelas, ruminando sua melancolia, dizendo a si mesmo que o amor é uma mentira. Come sua refeição, toma seu banho (o que faz, como todos os gatos, umas duas ou três vezes ao dia) e vai se deitar ao lado da gata fria que ronrona sonoramente. Fica ali, olhando para o teto, até que sua audição sensível capta o movimento de alguém nas cercanias. Seus pelos da nuca se arrepiam e ele se levanta sorrateiro. A figura com quem se depara do lado de fora é um velho gato Maracajá que vem com uma mensagem de um antigo conhecido: um tal de Paul Puma. Ok, eu sei, o nome soa tão estúpido quanto a alcunha Zé Gatão, mas eu ouvi num desenho do Pernalonga certa vez e me pareceu sonoro e resolvi usar. Paul Cougar talvez soasse melhor, mas o tom picaresco de Puma ainda cai melhor aos meus ouvidos. Bem, confesso para vocês que só esbocei o argumento até aqui, o que vem agora, assim como nas duas primeiras partes só existiu dentro da minha cachola, mas imaginei essas cenas tantas vezes e por tantos anos que é como se eu tivesse desenhado. O Maracajá trazia um recado do Paul Puma para Zé Gatão encontrá-lo em determinado lugar.

O Puma era um ativista político (seria o cristão conservador demonizado pelos marxistas em nossos dias) e estava sofrendo perseguição por parte de seus opositores. Relutante, o felino cinzento decide encontrar o velho conhecido. Deixa um bilhete para a fêmea e segue noite adentro com o mensageiro. Devo confessar a vocês que nesse trecho da saga eu não saberia muito bem como explicar a reunião entre os dois felinos, tipo, onde seria. Num quarto de hotel, quem sabe? Na verdade nem pensei muito num passado para os dois, seria algo que eu precisaria burilar com calma. 

Os dois se encontram num espaço onde ele é protegido por dois tigrões, pois sua oposição tinha jurado liquidá-lo a todo custo (algo como o Aiatolá Khomeini fez, colocando a cabeça do Salman Rushdie a prêmio). O caso é que a família do Puma, sua esposa (uma felina cega) e sua filhinha, encontravam-se em determinado local próximo à cidade onde Zé Gatão vivia e ele (Zé Gatão) deveria protege-las e levá-las a salvo em determinado lugar onde se encontram os aliados do Puma, daí eles se encarregariam de salvaguardá-las a partir daquele momento. "Porque seus consortes ou um dos seus guarda-costas não vão buscá-las e as põe à salvo? Porque teria que ser eu?" Indaga o mestiço. "Porque neste território qualquer um ligado a mim é um alvo em potencial e elas estariam sob forte risco  de vida, ninguém sabe que você existe e poderá agir sem muita pressão, e...não esqueça que você me deve sua vida. Estou cobrando este favor agora porque estou desesperado e só confio em você. Se você me prometer que vai protegê-las, eu poderia morrer em paz pois sei que você vai cumprir! Você sempre cumpre o que promete." O Puma tremia de emoção ao implorar. "Paul, eu estou velho e mais lento, tenho uma vida aqui..." "Zé  Gatão, minha família corre risco de vida, minha fêmea é cega!!! Por Favor!!!!" Relutante, muito a contragosto o felino cinza cede. "Não tenho muito dinheiro aqui, mas leve isso, deve ser suficiente para você comprar algum veículo, alimentos e ao chegar neste endereço com elas, entregue-as a Ali, um velho tigre albino, ele, assim como você, é de minha total confiança." Zé Gatão pega o dinheiro e se espanta ao ver o local onde deve levar as felinas. "Paul, isso fica no continente do norte, depois do oceano!!!!" "Sim, não será uma viagem fácil. Tenho informações que uma guerra mundial vai eclodir em breve e vão usar armas químicas. Mas sei que você e minha família subsistirão. Eu só preciso sair daqui em segurança e ir para um bunker que tenho preparado e esperar por vocês. Tome - o puma entrega um papel ao mestiço - minha esposa e filha estão neste local, só eu e você sabemos onde elas se escondem. Estamos em suas mãos agora." 

Extremamente contrariado com aquilo tudo, Zé Gatão se despede do amigo que um dia salvara sua vida. 

Depois que ele sai em companhia do gato Maracajá, o Puma prepara uma bebida e consulta seu computador de mão. É quando um dos tigres saca uma arma e aponta para a sua cabeça. "M-mas...o que é isso?!?" "A ordem era acabar com você e sua família, sabemos que sua esposa tem revelações comprometedoras contra o partido dos porcos, meus empregadores querem essas informações. Agora que podemos encontrá-las, não precisamos mais de você! Esse mestiço velho não será empecilho. O Maracajá vai matá-los assim que chegarem ao local onde elas se escondem." BANG! Os miolos do Puma se espalham pelo pequeno aposento cheio de papeis e livros. 

Zé Gatão, ruminando as palavras de seu amigo de cor parda, de que só confiava nele e no tigre albino chamado Ali, passa a ficar menos a vontade junto aos demais que compõe o séquito do Paul. Sem dar demonstrações disso, passa a analisar o felino que o acompanha; o velho Maracajá parecia um ex soldado, provavelmente mercenário, desses que são secretamente recrutados pelo exército canídeo para missões de assassinato, pose altiva, robustez para alguém de idade, algumas cicatrizes no rosto. Entraram num pequeno veículo voador sem trocar palavra. Um sutil cacoete chamou a atenção do felino cinzento, ele batia levemente com o dedo indicador no volante da nave, um sinal que revelava nervosismo, ou podia não ser nada, mas resolveu ficar atento. Chegam ao local. Poderia ser uma cabana, ou uma casa modesta, dessas que não chamam a atenção. Pela primeira vez ele vê uma arma de alta potência na cintura do felino de grandes olhos. Zé Gatão não é militar, nunca foi treinado como tal, mas ao longo da vida, passando por situações de risco e extremo stress, desenvolveu sensibilidade inexplicável para saber que ali alguma coisa não cheirava bem. Seu companheiro tinha uma atitude nervosa, batendo mais do que nunca o indicador na coxa direita, a respiração mais pesada, típica de alguém que não está à vontade, algo que não aconteceu quando este foi levá-lo ao Puma. Antes de bater à porta das gatas, com o coração também acelerado, resolveu confrontar o Maracajá. "Olhe, cara, não sei de que lado está, mas se pretende trair o seu chefe fazendo alguma merda, te aconselho a reconsiderar." Como que pego com a boca na botija, o felino fez cara de espanto, seguido de uma expressão de ódio por ter sido descoberto, a mão correu veloz como um relâmpago para a arma em sua cintura, muito mais rápido foi o punho direito de Zé Gatão em sua face. O murro que acertou o olho do gato foi tão brutalmente feroz que a manopla quase entrou pelo seu crânio, esmagando o etmoide, lacrimal e zigomático. O Maracajá não teve tempo de usar a pistola, sequer de pensar ou sentir dor ao cair pesadamente desacordado no solo pedregoso. O felino casmurro não se importou em verificar se o oponente estava morto ou não, pegou sua arma e correu a bater na porta das fêmeas que estava destinado a proteger. 

Bem, queridos, me envolvi no texto e acabei quase escrevendo um conto baseado nas ideias que eu tinha para esse projeto, vamos resumir. Zé Gatão tem certa dificuldade em convencer a esposa cega do Puma de que era do bem, enviado do seu marido para levar ela e a filha para um certo tigre albino no continente do norte, ela era uma bela gata branca, não gorda, mas pesada, de voluptuosas proporções e cabelos cinza, a filhinha, uma pequena mestiça de gato com leão da montanha. O felino griz sentiu logo empatia. Rumaram ás pressas para o pequeno veículo esférico e levantaram voo. Em pouco tempo chegariam à casa de Zé Gatão, ele precisava trazer sua companheira para a aventura. Estrondos de bombardeios e nuvens de fumaça ao derredor traziam sons e odores de destruição e terror.

Pousaram, e enquanto o felino corria à casa, mãe e filha aguardavam na nave. Chamando pela companheira o gato não teve resposta, temia o pior quando encontrou uma carta revelando que ela havia partido, se desculpava, amava-o, mas não era feliz com ele. Tentando assimilar a situação o gato ouve um grito. O veículo voador cercado de enormes e nojentos insetos. Zé Gatão sai disparando. Não era exímio atirador, posto que raramente usava armas de fogo, mas conseguiu abater alguns daqueles monstros, outros, tinham a carapaça tão dura que as balas ricocheteavam, alguns, empunhando fuzis, abriram fogo contra o felino, mas este, se movia numa velocidade tão grande, que não conseguiam fazer mira, tombando ao serem atingidos em suas partes vulneráveis, como garganta e olhos. Mortos, os insetos conseguiram, porém, destruir as turbinas do veículo alado. Teriam que fazer a viagem por terra; péssimo isso! O gato corre então para pegar sua antiga, mas ainda potente motocicleta. Com as fêmeas na garupa tem início uma corrida selvagem pelas matas com os felinos sendo perseguidos por uma horda de insetos. Provavelmente os Subsounds do território foram todos destruídos, pensa o Zé.  

Cenas de perseguição na mata e depois no asfalto ao estilo Mad Max que lembrariam as cenas do comboio maluco em Memento Mori. Nessas corridas insanas pelo asfalto mortal teríamos os tais insetos, lagartos combatendo contra eles e algumas gangues de cães vadios. Ninguém alvejando Zé Gatão propriamente dito, apenas ele tendo que sobreviver no fogo cruzado e proteger as felinas, ziguezagueando entre os carros e caminhões. Eu planejava de 20 a 30 páginas de ação sobre rodas. Por fim, com o combustível quase a zero, ele combateria alguns vagabundos motorizados fora da estrada e, vitorioso, encontraria abrigo numa espécie de fazenda onde residiria um porco rústico e seu netinho. Suas vestes lembrariam o porquinho Prático, da conhecida história disneyana. O suíno o ajudaria em agradecimento por Zé Gatão ter se livrado dos "punks" que hora e meia vinham incomodá-lo. Esse trecho seria um break na ação para que Bianca, a gata cega e Brown, sua filha, conhecessem melhor o  seu protetor felino, eu teria que criar diálogos (amenidades) para este breve momento de sossego na tal fazenda. O porco seria solícito, até demais, para o gosto dos três gatos, mas o que incomodaria da fato o Zé Gatão seria o modo estúpido como o cerdo trataria o neto, espancando-o por tudo e por nada. Esse trecho lembraria bastante uma cena de um filme do Kevin Costner, dirigido pelo Clint Eastwood, chamado Um Mundo Perfeito. Ao se opor ao tratamento violento que o varrão concede ao porquinho, o gato veria a verdadeira natureza do suíno. O felino, porém, mostra que pode ser muito truculento com covardes. Findo o sossego, os três bichanos, partem da fazenda,  deixando o proprietário bastante ferido no corpo e no orgulho.

Chegando no cais do porto, impossibilitado de trafegar pelo ar, os felinos seriam obrigados a fazer o percurso pelo mar, ingressariam em uma embarcação comercial chamada BARRACUDA. Sempre quis fazer uma HQ de pirata e esta me pareceu uma boa oportunidade. Essas ideias foram bem antes do meu velho amigo Luca Fiuza conceber o fantástico conto com Zé Gatão intitulado "A Cloaca dos Mares".

Seria uma viagem tensa, com uma tripulação hostil, composta de cães, raposas e alguns gatos de má fama, liderados por um negro capitão bovino. A aflição atingiria o ápice num terrível maremoto. O Barracuda se encontraria no epicentro da guerra entre mamíferos e peixes. Os aquáticos se encarregariam de afundar todas as embarcações que tivessem a infelicidade de estar em seus domínios.   Seria a realização do sonho profético visto na página 113 em Daqui Para a Eternidade? Possivelmente.

Segue-se uma cena de naufrágio com os tentáculos de uma lula gigante destruindo a embarcação no melhor estilo Júlio Verne. Uns sobreviventes aqui, outros acolá e num dos barcos salva vidas temos Zé Gatão e suas protegidas (essas em desespero) e dois ferozes cães de rinha e uma raposa maquiavélica. 

Como seria de se esperar, ao invés de unir forças contra as ameaças dos tubarões, peixes espadas e polvos, os cães e a raposa voltam suas frustrações contra os felinos, dizendo que gatos dão azar, por isso o navio soçobrou. Uns dois dias no mar, combatendo contra os peixes que vem à tona para dar cabo dos sobreviventes no barquinho e no auge da fome, um dos cães propõe comerem a pequena gata mestiça alegando que ela teria a carne tenra, temos então um embate brutal e desigual entre um envelhecido e esgotado Zé Gatão contra dois cachorros jovens e ensandecidos. Bianca mesmo cega e combalida entra na peleja, é ferida e essa situação joga uma carga de adrenalina no mestiço cinza que no apogeu de sua fúria, usa suas armas naturais, suas garras contra as presas alucinadas dos canídeos, Unhas e dentes ferindo carne, os punhos do Gatão fraturando ossos, o sangue trazendo à superfície esquálos sedentos de sangue. O cachorrão teve sua perna abocanhada por um daqueles seres e sugado para o fundo do oceano, o outro vendo o triste fim do seu semelhante começou a uivar em desespero, seguiu-se por parte dele uma fúria descontrolada, uma torrente de desafios e palavrões, sua bocarra deixava cair uma baba gosmenta e fedida: "Venham, tubarões filhos da puta do inferno! Venham, vou comê-los na porrada!!!!" Um titânico pisciforme subiu no barco quase fazendo-o virar, com uma dentada, veloz como um látego, arrancou cabeça, ombro e braço direito da raposa, em seguida avançou para cima do cão, mas Zé Gatão se adiantou socando-o com a rapidez de um raio e com tanta violência na região das costelas que o rompimento de suas duras cartilagens poderia ser ouvidas à distância, o peixão urrou como um trovão, ato contínuo o canídeo arremeteu com a ponta do remo num dos olhos negros e inexpressivos da criatura matando-a no ato. Não parou por aí, outros seres cercaram o barco, as felinas agarradas instintivamente nas pernas e costas do seu protetor impedindo-o de se movimentar direito. Levado pelo ódio e pela loucura o cachorrão bufava e golpeava com o remo nos tubarões esfacelando suas cartilagens, contudo, a superioridade prevaleceu. No mesmo instante que as presas dos peixes o rasgavam ao meio, uma nave de pequeno porte da marinha nortista sobrevoou o local disparando contra os seres aquáticos. Resgatados no último instante, os felinos finalmente foram tirados daquele pesadelo. São cenas clichês, eu sei, mas tem clichê que funciona se for bem feito.

 Em terra firme, tratados, alimentados e hidratados, os gatos são informados dos últimos acontecimentos por um tenente, um labrador bem educado. Todas as cidades litorâneas invadidas e tomadas pelos peixes. Conflitos em diversas regiões do planeta. Caos, guerras civis, pestes. 

Depois de um breve depoimento às autoridades militares daquele local, os felinos são liberados e Zé Gatão sempre servindo de amparo à gata cega e com a filhote em seus poderosos braços segue a procura do tigre albino chamado Ali. Encontra-o por fim depois de alguns dias. São informados pelo imenso felino branco que Paul Puma fora assassinado e ele pensava que também sua esposa e filha tivessem tido o mesmo destino. Seguem-se palavras de gratidão ao gato cinza por todo bem feito às felinas e o convite para que ele venha também para o bunker preparado aos fieis apoiadores do Puma. 

A oferta soou tentadora a Zé Gatão, mas ele, averso às politicagens e ao convívio com terceiros que ele mau conhecia, ainda mais em um espaço restrito, preferiu os perigos, mas em campo aberto. Beijou a pequena Brown, a quem se afeiçoou. Ela, entre lágrimas, pediu a ele para ficar, mas ele objetou dizendo que fechado num buraco por tempo indeterminado seria a morte para ele. "Sabe, todo esse tempo que eu e mamãe estivemos com você eu não senti medo, porque você estava conosco. Mas....nunca vi você sorrir....você poderia sorrir pra mim?" Em resposta o gato cinza sorriu para a pequena e beijou-a na testa. Não foi preciso dizer mais nada, ele virou-se e saiu rumo ao desconhecido. Há uma distância  curta ele ouviu a voz  argentina da criança gritar em meio ao choro: "Eu nunca vou esquecer você, Zé Gatão! Nunca na minha vida!" Com lágrimas nos olhos ele apertou o passo e seguiu em frente.

Bem, queridos, era o que eu queria dividir com vocês, os acontecimentos entre os álbuns Daqui Para A Eternidade e Siroco foi revelado aqui. Não foi roteirizado nem desenhado, não virou gibi, mas minhas intenções e planos foram esmiuçados o máximo que eu pude.

Existe uma HQ curta rascunhada a lápis intitulada "EL PUERCO" que se passa um pouco antes dos eventos do Siroco, nela Zé Gatão é um mero coadjuvante, as situações são entre porcos e ratos, o leão Khan faz uma breve aparição. Se rolar o OMNIBUS prometido ela estará presente, assim como  esse texto.

Obrigado a todos vocês, se tiveram a paciência de ler tudo até aqui é porque gostam mesmo do ZÉ GATÃO.

DEUS ABENÇOE A TODOS COM SAÚDE, PAZ E PROSPERIDADE!

 

 

 




domingo, 15 de setembro de 2024

AMIGOS DE EXCELÊNCIA (PARTE 2)

 


 A dura caminhada da vida seria impossível se não tivéssemos uma boa base familiar, a minha parentela sempre foi complicada, eu diria até que era disfuncional, mas sempre fomos unidos nos momentos de desventuras e nos apoiamos e respeitamos.

Outro grande presente de Deus são amigos verdadeiros e esses são raros. Por amigos, evidentemente, não falo de conhecidos, colegas e bajuladores e/ou interesseiros, brothers não são aqueles que puxam o saco, mas ouvem quando precisamos falar sem impor o que julgam ser o certo, riem quando rimos e choram quando vertemos lágrimas. Nos apoiam e incentivam quando estamos lá embaixo e nos empurram tanto quanto seja possível ladeira acima e não te puxa quando estão afundando.

Camaradas do peito tem dado uma força muito grande para tentar alavancar meu nome e minha arte (isso é o que sou, minha reputação e minha arte).

O artista ilustrador, quadrinista, escritor e ator (sim ele faz tudo isso e muito mais embora não tenha o reconhecimento devido, como de praxe) Celso Moraes, semana passada cometeu esse vídeo em seu canal SÓ QUADRINHOS no Youtube, falando um pouco sobre minha vida e minha produção. Pode parecer pouco, mas pra mim é tudo. Um tijolo aqui e outro ali assentado de forma sincera, levantamos uma parede sólida.

Muito raro isso num meio onde invejosos e medíocres grassam como ervas daninhas, esses propositadamente te ignoram ou criticam destrutivamente.

Também o poeta Barata Cichetto, transcreveu o texto do vídeo e hospedou em seu site com umas imagens bem legais do meu trabalho (https://barataverso.com.br/criacao-e-resistencia-a-arte-singular-de-eduardo-schloesser/ ). Se muitos assistirão o vídeo ou lerão o texto, não sei, mas por menor que seja, o pouco com Deus é tudo o que precisamos, como dizia minha mãe. 

Meu sinceros agradecimentos, Celso. A vida não tem sido fácil, mas precisamos ser fortes e prosseguir. Eu queria retribuir de alguma forma que não fosse apenas com palavras, mas sou apenas um velho desenhista que sabe de nada. 

Obrigado também, poeta Cichetto!

A vocês todos que me prestigiam lendo minhas palavras aqui, gratidão!

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

COMENTÁRIO DO PROFESSOR, DESENHISTA E ESCULTOR LOUIS MELO SOBRE ZÉ GATÃO - SIROCO

BOM DIA A TODOS!

LOUIS MELO É UM ARTISTA DE EXTREMO TALENTO E SENSIBILIDADE. FOI MUITO GENTIL DA PARTE DELE ME ENVIAR ONTEM DE MADRUGADA A MENSAGEM QUE REPRODUZO ABAIXO. FAÇO ISSO PORQUE SEI QUE SE EU NÃO ENALTECER MINHAS CRIAÇÕES (MESMO ATRAVÉS DAS PALAVRAS DE OUTREM) OS "JORNALISTAS E INFLUENCERS" DO MEIO NÃO O FARÃO. ZÉ GATÃO - SIROCO TEVE UMA PRENSAGEM DIMINUTA QUE TOCOU OS CORAÇÕES CERTOS.  

MUITO OBRIGADO, CARO LOUIS!

 


 "Olá, Prezado, Boa noite, como estás ? Vim lhe avisar de que terminei de ler sua obra, achei simplesmente fantástico, história muito bem escrita, ritmo de acontecimentos muito bem arquitetado, desenhos são um show a parte. Realmente a capacidade humana de dar vazão de sua breve vivência em manifestações artísticas assim é algo que foge de explicação racional e lógica, esse nosso ímpeto de gravar símbolos, formas e demais imagens. Me ocorreu um estranho, mas interessante fenômeno ao ler aquelas páginas, que é a impressão de poder ter tido uma conversa com você, pelas imagens que montou, pelas falas dos personagens, pela visão dos mesmos, foi um diálogo muito bem vindo, sinto que pude lhe conhecer melhor ali mais do que qualquer áudio ou ligação que possa ter me feito, agradeço o privilégio de partilhar essa obra comigo. Como sabe, sofro de uma doença que anda em estado de metástase, ela me drena de um jeito terrível, indolor, mas agoniante ao mesmo tempo, lendo seu quadrinho, pude, ainda que por poucas horas, encontrar algo que pôde me lembrar o que outrora chamei de paz. Infelizmente, o mundo sendo como é, mata gênios como você o condenando ao ostracismo, mas me recuso a ser um admirador de mais um artista que já se foi, então que fique registrado o quanto admiro sua arte enquanto está vivo, enquanto está por aqui. Novamente, obrigado por esse valoroso presente."


 

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ZÉ GATÃO CIDADE DO MEDO, 30 ANOS!!!!!

 


 O artista e também gente finíssima Emir Ribeiro sempre festejou os aniversários de sua mais famosa personagem, Velta. E a primeira vez que vi uma edição comemorativa da detetive super heroína pensei, vou fazer uma edição assim do meu personagem quando ele completar, sei lá, 10, 20 anos, como faz o Emir? NÃO, NUNCA FIZ. Queiram ou não, todos que curtem quadrinhos nacionais sabem quem é a Velta e nosso amado quadrinista paraibano sempre consegue recursos para publicar seus álbuns de forma independente (isso muito antes do financiamento coletivo virar moda). No meu caso, pouquíssimas pessoas sabem quem é o Zé Gatão e eu jamais tive dinheiro para colocar meus álbuns na praça para ir vendendo pouco a pouco através dos anos; se assim fosse teríamos não apenas seis álbuns mas talvez uns quinze ou vinte, ideias para isso nunca me faltaram conforme já comentado neste blog, o problema é que meu cansaço através do tempo e por conseguinte, desilusão, eu fui abandonando todos os argumentos que ganhavam corpo na minha mente. 

Semana passada o amigo Daniel Lúcio me perguntou se eu faria pelo menos um texto para celebrar os 30 anos de concepção do primeiro livro do Felino. Caramba! pensei eu, já passou tanto tempo assim? Agradeço ao Daniel por me lembrar e sugerir pelo menos algumas palavras para não passar batido.

A princípio, devido ao meu momento atual não ser muito auspicioso (pra variar) pensei em deixar pra lá, mas sabem, hoje, pós pandemia, mais que nunca o futuro é uma incógnita. Não sei quanto tempo ainda vou estar aqui e o mundo como nós conhecemos, segundo alguns teólogos e cientistas políticos, pode nunca mais ser o mesmo até 2030. Então vamos memorar hoje.  

Seria legal, uma edição solene com uma HQ inédita emulando meus traços do período e com textos e pinups de outros artistas, não é? Mas na real, sendo bem frio, quem liga para o Zé Gatão além de mim mesmo, alguns amigos e uns poucos fãs? Ninguém mais. E quando eu digo que quase ninguém dá a mínima não estou sendo um cretino modesto, é ninguém mesmo! Haja vista que enviei o PDF do Siroco para umas pessoas que seriam potenciais leitores, uma vez que curtem a minha arte e meus textos e eles nunca leram ou retornaram comentando algo. Cagaram e andaram. Tudo bem, ninguém é obrigado a gostar. Só posso dizer que eu fico feliz de ter esses escassos amigos e fãs que sempre me prestigiam e essa postagem é dedicada a eles.  

Inicialmente essa seria a capa.
 

O que eu teria para dizer sobre esse álbum que eu já não tenha dito? Pouca coisa, minha memória já não é a mesma e trinta anos fazem a diferença. Ao criar a primeira história do personagem em pranchas A3 eu não tinha a menor intenção de seguir essa linha de quadrinho com animais humanizados, eu tinha em mente algo nos moldes do Jardim de Edena do Moebius, mas com uma inclinação para o terror. Mas acabei me afeiçoando a esses antropozoomorfos e Zé Gatão me soou como o porta voz ideal para meus pensamentos naquela época. Repetindo o que já disse em inúmeras ocasiões eu não sabia como compor uma história em quadrinhos, eu intuía, supunha, baseado no que lia desde moleque, mas desconhecia totalmente o que ensinavam o Scott MacLoud e Will Eisner em seus livros, ou seja, fazer quadrinhos não basta ser um exímio desenhista, tem que saber narrar os acontecimentos baseados na ciência dessa forma de arte. Mas eu fui seguindo meus instintos.

Zé Gatão, acreditem, já foi mais popular nos cinco primeiros anos, tive um bom feedback do segundo livro tempos mais tarde. O público daqueles tempos estava mais ligado na produção local e as matérias nos jornais e revistas (Crônica do Tempo Perdido ganhou página inteira no Correio Brasiliense), embora fossem mais difíceis de conseguir, tinham mais força e ouso dizer, legitimidade. Os leitores de HQs daquela época, se perguntados: o que você pode me dizer sobre Zé Gatão? Haverá uma resposta, qualquer que seja, ao invés de um "Zé o quê???" Teoricamente a internet com sua propagação de informações deveria ser o veículo modelo para divulgar, o problema é que, como já pontuei muitas vezes, o excesso de coisas que são despejadas continuamente na cabeça das pessoas, torna o produto invisível para a maioria (análise minha). Meu Felino não teve continuidade imediata, o terceiro livro só veio à tona anos mais tarde e ignorado pela mídia, leia-se sites e blogs, atualmente são canais de YouTube com "especialistas" em tudo.

 

O que tinha eu para começar a minha saga? Qual a motivação além de aparecer e tentar viver disso? DESABAFO. Eu vivia, como vivo hoje, em depressão, conceber gibis foi terapêutico, pude me expressar através das palavras e dos traços, ainda que de forma canhestra e, sim, pueril. 

Quando o mundo se torna muito pesado, uma mudança de ambiente, uma viagem, costuma aliviar a tensão. Zé Gatão ganhou vida por causa de uma relação infrutífera que tive com uma mulher que amei muito, foi o fruto de um amor não correspondido. Hoje eu sei que a pessoa não valia o desgaste, mas quando a alma está doendo não é o consciente que dita as regras. Colocando o peso nas costas do personagem botei ele no selim de uma velha moto para sair do stress das grandes metrópoles e fugir das lembranças de uma fêmea ingrata que batizei de Kayleigh (isso mesmo, por causa da música do Marillion, achei o nome sonoro). Ela viria a dar as caras em Crônica do Tempo Perdido.

A história que eu queria era básica, você tenta fugir dos problemas mas os problemas te perseguem e te derrubam. Capturado, o felino é levado a lutar numa arena para delírio de um populacho acostumado a pão e circo pelo ditador da cidade, um equino que batizei de Equus Giordano, para citar Giordano Bruno, o teólogo, matemático italiano queimado pela inquisição.

Uma das pinups que dividem os capítulos.
 

Eu acho a Cidade do Medo, pra ser sincero, uma HQ muito petulante, verborrágica, com firulas desnecessárias e que faz eco, devido a minha inexperiência, àqueles quadrinhos da Marvel anos 60 onde texto e arte são redundantes, balões de pensamento reforçando o que já é visto na ação. Acho as cenas de luta bem elaboradas e talvez eu tenha conseguido transmitir a sensação de tristeza e inadequação do protagonista, eu era perseguido ferozmente pela ideia de suicídio (e ainda sou) mas poderia ter usado menos palavras. Sem que eu tivesse me dado conta, se tornou a válvula por onde escapavam meus arroubos de fúria, o que eu internalizava diariamente, expelia através daqueles rompantes de violência explicitados naquele teatro de truculência. Outro ponto a salientar é o forte erotismo existente na obra. Já fizeram leituras erradas a meu respeito por causa disso. Não sou uma pessoa que só pensa em sexo como supuseram; o Milo Manara não vive enfiando o dedo no cu das mulheres como acontece em seus quadrinhos, Serpieri tampouco, Liberatore não esfacela o crânio das pessoas como o androide que o tornou famoso ou Bernie Wrightson não violava túmulos. Muitos que conheciam o Angeli pelo Bob Cuspe achavam que ele lambia chão de banheiro público, o Marcatti é um decente chefe de família. O que acontece é que os artistas usam recursos narrativos (no meu caso, simbólicos) para dar um tempero extra e assim chamar a atenção do público. Eu confesso que queria chocar também, dar um chute no saco dos nerds que só liam gibis de heróis. Foi um tiro no pé? Talvez, mas eu não pensei no assunto naqueles dias, muito influenciado por publicações undergrounds americanas e espanholas de terror e sci fi, achei que a audiência brasileira estaria preparada para aquilo. Ledo engano.

Um fanzine certa vez classificou o álbum branco do Zé Gatão como excelente, um autêntico herdeiro dos gritos de inconformismo dos jovens dos fins dos anos 70, um verdadeiro punk rock. Não concordo, o punk veio provar que para você formar uma banda não tem que ser erudito como os caras do Rush, basta tocar algumas notas e rugir no palco; sem modéstia, penso que meus desenhos são bem mais que isso e poderiam muito bem ser publicados na Metal Hurlant do primeiro período.

 

Entre o finalização das últimas páginas até a publicação e exposição nas comic shops de São Paulo e Brasília algumas memórias ternas alentam meu coração, lembro do velho apartamento onde morávamos no centrão, meus pais, André fazendo cursinho para tentar o vestibular de medicina, Samanta ouvindo suas músicas no quarto, o Rodrigo trabalhando na banca Olido. Quando o tomo finalmente entrou em gráfica eu ia quase todas as tardes lá na PKR (o bairro de Santa Cecília não ficava tão longe da Rua Guaianazes) para ver as páginas sendo rodadas. O processo naquela época era outro, fotolitos, chapas de metal e coisas assim. Aos poucos eu via o filho sendo gerado. Recordo de minha mãe numa tarde clara e quente, com Samantinha ao lado, me dizer que eu estava esfuziante como ela nunca tinha visto na vida. Pudera, eu estava realizando o meu primeiro sonho.

Houve atraso na entrega dos livros, minha mãe estava de viagem marcada para Brasília para visitar meu irmão Gil e eu  queria enviar uns volumes para ele, assim tiveram que encadernar cinco unidades meio as pressas para aquele fim. Meu irmão da capital federal leu a obra umas cinco vezes seguidas, e não só ele, mais umas duas pessoas chegadas leram mais de uma vez em sequencia, mas eram suspeitas para falar o quanto gostaram. Não lembro de um álbum de quadrinhos com aquela qualidade, formato e tamanho naquela data, talvez as HQs do Mutarelli? Pode ser.

Rememoro a tarde em que a perua da gráfica chegou com todos aqueles pacotes contendo as duas mil unidades de A Cidade do Medo, parecia que não ia caber tudo no quarto onde dormíamos eu, André e Rodrigo. A Livraria Muito Prazer ficava perto de casa e eu era amigo dos donos, ainda assim eu procrastinei mais de uma semana para vender lá. Eu sabia que uma vez exposto ao público, não teria mais volta, ou gostariam ou odiariam, pois ficar indiferentes não seria possível, como não foi. A primeira leva (uns vinte, creio eu) esgotou rápido, assim como os vinte que enviei para Brasília e o Gil levou na banca da UNB que comercializavam muitos quadrinhos. Na Comix da Alameda Jaú, idem.

Matéria na Tribuna de Santos, na revista Sci Fi News e só não teve mais resenhas em publicações especializadas em BD por que alguns editores acharam o conteúdo ofensivo. Admiradores meus acharam que era inveja por parte deles. Não sei.

Tenho orgulho desse primogênito embora contenha as falhas que citei acima. Ainda é o preferido de muitas pessoas por soar bem visceral. Tá cheio de homenagens, citações (algumas ocultas) e símbolos. A única coisa que eu mudaria nele seriam os meus agradecimentos na introdução que faço do livro, estão registrados ali todas as pessoas que de alguma forma, direta ou indiretamente, negativamente ou positivamente contribuíram para que aquilo acontecesse e hoje, depois de muitos anos, alguns desses nomes foram equívocos da minha parte, me deixei levar pela emoção do momento. 

Para finalizar, eu diria que NADA MAL para uma estreia.

Obrigado a todos que acompanharam o álbum branco ao longo dessas três décadas. 

Gratidão, Senhor! 






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